September 24, 2005

QUEM SERÁ O PRINCÌPE?

Começo hoje por duas citações da célebre obra de Nicolau Maquiavel, «O Princípe», editada em Florença em 1531:
«É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade (...) Um príncipe sábio não pode, pois, nem deve, manter-se fiel às suas promessas quando, extinta a causa que o levou a fazê-las, o cumprimento delas lhe traz prejuízo.»
Dito isto passo a contar uma fábula:
Era uma vez um país onde o novo príncipe vivia atormentado pelos fantasmas do passado. Com o apoio do seu escudeiro desenhou um plano fantástico: lançar os seus inimigos para o meio de um turbilhão. Ao mais velho de todos, e com maior influência, levou-o a querer disputar difíceis eleições; com este desafio acabou por colocar a única pessoa que lhe disputou a liderança do partido, um dos outros notáveis da velha guarda, num beco sem saída; ao filho do patriarca colocou-o a disputar uma Câmara onde não seria fácil alcançar vitória; a um seu rival da mesma geração lançou-o para uma campanha eleitoral, sendo certo que a disputa seria grande e que de antemão se sabia que por ali havia uma certa falta de jeito para as andanças que uma campanha exige.
Todas as sondagens davam como provável a derrota dos candidatos que deixou avançar mas isso não o preocupou demais. Os que fossem derrotados dificilmente se levantariam de novo, e ele poderia sempre dizer que lhes deu a oportunidade que eles não souberam aproveitar. Não deixaria até de lhes louvar o sacrifício. E assim, de duas penadas, se livraria dos seus tormentos. Restava-lhe o escudeiro – e ao escudeiro restava o princípe. Mas o fim desta história só mais para a frente se saberá.