June 20, 2005

COINCIDÊNCIAS

Os portugueses são os cidadãos europeus que menos se interessam sobre política, são dos menos informados em termos gerais, dos mais insatisfeitos com a vida que levam, os que têm maior apego à religião e, já agora, aqueles em que o futebol faz parte do conceito nacional de auto-estima por indicação presidencial. À excepção da referência ao futebol, o resto está num estudo do Eurobarómetro sobre Valores Sociais, divulgado esta semana.
Os indíces de abstenção já eram um bom indicador da importância que se atribuía à política – mas este estudo quantifica a coisa: apenas 53% seguem a actividade política, 45% dizem-se completamente desinteressados e apenas 50% se considera informado. Não se pode dizer que o resultado abone a classe política portuguesa nem os media – 31 anos depois do regresso da democracia quase metade do país não a utiliza de facto.
A coisa, no fundo, percebe-se: como se há-de acreditar numa classe política que promete uma coisa nas campanhas eleitorais e faz outra quando chega ao poder? Como se pode acreditar em partidos que são centrais de emprego e centros de conspiração permanentes – já analisaram a elevada rotação dos principais responsáveis de cada partido (nos últimos quatro anos PS e PSD tiveram três responsáveis máximos cada um)? Como se há-de acreditar em orgaõs de comunicação que parecem newsletters de recados da classe política?
Enquadrados por Presidentes da República de comportamento errático, governos instáveis e partidos dissociados dos cidadãos, ainda é sorte que mesmo assim 53% se interessem por política num país onde a proximidade entre eleitores e eleitos é inexistente. O regime não está a funcionar – desta vez é oficial.