August 09, 2004

INDEPENDÊNCIA
INFORMAÇÃO A MENOS

Um dos mais curiosos exercícios que se pode fazer é ler jornais com um mês de atraso. Assim sempre se pode confrontar a diferença entre as crónicas anunciadas e a realidade. O «Expresso», por exemplo, noticiava há cerca de um mês que o Presidente da República estava a ficar mais próximo da convocação de eleições e anunciava que o Comissário Europeu António Vitorino se preparava para regressar à vida política activa e, talvez, a tomar conta do PS a partir de 1 de Novembro. Ambas as notícias vinham na capa da edição do passado dia 3 de Julho. Escassos dias depois ambas as peças estavam desmentidas pela realidade e à distância de um mês parecem atrozmente ridículas.
Nalgumas estações de televisão alguns jornalistas tecem declaradamente comentários pessoais a meio do relato dos acontecimentos, por vezes chegam ao ponto de insinuar agrado ou desagrado perante determinadas posições de alguns políticos e não se coíbem de utilizar a expressão facial ou trejeitos para acentuar o que pensam. Não viria mal ao mundo se fossem comentadores, analistas e se se apresentassem como tal: mas não, são repórteres em S. Bento, Belém ou nas sedes dos partidos e até «pivots» noticiários.
Porque é que isto acontece? Porque em vez de relatarem, reportarem, alguns orgãos de comunicação preferem deitar-se a adivinhar, preferem utilizar fontes não identificadas para espalharem rumores, preferem fazer passar opinião por informação – de uma forma aliás que se aproxima muito da manipulação da opinião pública. O jornalismo político em Portugal é carregado de insinuações e pequenas manobras e muito parco em boa informação. Quando manobristas políticos são utilizados como «fonte fidedigna» há pouca coisa que possa correr bem.