August 02, 2004

A ESQUINA DE SEXTA FEIRA PASSADA, ENTÃO AINDA A SUL

O CÉU FICA NEGRO com o fumo dos incêndios. Os fins de tarde na praia têm uma luz estranha, o sol a pôr-se detrás dos sinais de fogo. É uma luz terrível, ao mesmo tempo estranha e cativante. Olhamos para as coisas com outros olhos. Olhamos para os outros com um sentir diverso. O calor muda a face da terra e muda-nos a nós todos. Uma semana de calor abrasador e ficamos todos diferentes.

OS INCÊNDIOS fazem parte do ciclo de vida das florestas. Por mais que o saibamos eles continuam a aterrorizar-nos. Todas as noites vejo nos telejornais as caras exaustas dos bombeiros, num rodopio de norte a sul de Portugal, a combaterem as chamas no meio de um calor tórrido. Ano após ano os bombeiros mostram o sacrifício que fazem, são repetidamente heróis que muitas vezes descuramos - mais de cem já ficaram feridos desde Junho. A sua coragem quase que faz parte das rotinas. E nestas alturas percebemos como muitas vezes não os estimamos como merecem. O esforço que têm nunca é uma rotina. É um permanente desafio,

O DEBATE DO PROGRAMA DO GOVERNO correu de acordo com as expectativas: a oposição atacou (já tinha aliás dito que ía atacar mesmo antes de o Programa ser conhecido), a coligação defendeu. Passei a terça-feira a andar de carro de um lado para o outro e segui quase todo o debate pela rádio. Acho que todos os líderes partidários deviam escutar a gravação integral do debate – era educativo e podia ser que percebessem porque cada vez menos gente se interessa pela política. No debate foi tudo muito previsível, porquê? Porque cada um vai afirmar uma posição em vez de discutir, argumentar, sugerir. A mediatização dos debates transforma-os nos palcos de excelência para a amplificação das posições de princípio, em vez de serem o local onde se trocam ideias. Às vezes acho que os senhores deputados devem viver noutro país. Falam das coisas de uma maneira que faz parecer que não se lembram do que se passou nos anos recentes, de quem fez o quê, de quem disse o quê. Pode parecer utópico dito assim, mas parece-me que a ideia original dos parlamentos era que várias cabeças juntas trocassem ideias que permitissem ir melhorando o estado das coisas. Em vez disso cada grupo parlamentar limita-se a repetir slogans. Não há debate. Não houve debate.


DUAS RECOMENDAÇÕES PARA AGOSTO EM VILAMOURA: 1- O Tabuínhas, bar da Praia da Falésia, cumpre o seu papel na canícula: cerveja fresca durante o dia, saladas simpáticas. Mas onde ele se revela melhor é mesmo ao fim da tarde, frente a um gin tónico com boa música gravada em pano de fundo; ou então, mais tarde, para uma jantarada de amigos com um peixe fresco grelhado; e, às vezes noite fora, nas festas que de vez em quando lá acontecem e se espalham pelo areal. O bar parece a sociedade das nações: uma empregada checa, outras brasileiras, outras indianas, e a coisa lá vai funcionando. 2- O Jazz Clube na praça do cinema é uma boa ideia para começar as noites de quinta,sexta e sábado, com música ao vivo geralmente interessante e uma bela selecção de música gravada, dos blues ao jazz. Cerveja fresca,ambiente simpático e despretencioso.

NO REGRESSO DE FÉRIAS, a partir da próxima semana, a «Esquina do Rio» vai mudar de forma e conteúdo, deixando o comentário político, para passar a fazer uma revista semanal, escolhida, de notícias, novidades, curiosidades. Já agora era bom de saber o que os leitores gostavam de ver por aqui, nesta revista semanal – ideias e sugestões para aesquinadorio@hotmail.com