May 10, 2004

A AUTORIA

Em política, a autoria é tudo. Algumas propostas de direita são bem aceites pela esquerda se o seu autor lhes fôr simpático e o mesmo acontece a algumas propostas de esquerda. È claro que isto se passa a nível dos lideres partidários e dos fazedores de opinião, de algumas elites que ao longo dos séculos foram desviando o sentido da democracia, o significado efectivo do voto. Para algumas elites a opção do eleitorado não é interessante porque o povo não se sabe proteger – daí que precise de guardiões, de vigilantes, que se propõem velar pelo resultado efectivo das eleições. É o domínio do politicamente correcto e da hipocrisia ideológica, é o poder de elites não sufragadas sobre opções e programas que foram a votos.
Existe um perigo na nossa sociedade que é o do desprezo pelas indicações dadas pelos votos. Há quem não hesite em dizer que não interessa nada se um programa de acção de determinado partido ou político teve a maioria das urnas se, por acaso, as acções a concretizar estão no índex das pequenas inquisições que por aí abundam. A forma como se combate, com expedientes administrativos e processuais, a concretização de políticas votadas tem apenas o efeito de afastar ainda mais os cidadãos do voto, tem o efeito de desacreditar a política – que devia ser a forma privilegiada de acção cívica em vez de uma rotina de habilidades jurídicas avulsas.
A política não se esgota nos partidos nem nos políticos que os representam e por eles se sujeitam aos votos dos cidadãos. Mas – a menos que queiramos um outro regime – também não se faz contra eles. Quem quer mudar de regime?