FILOSOFIA
Brilhante a entrevista do filósofo Fernando Gil na PÚBLICA de ontem, feita por Maria João Seixas. Excerto:MJS - Qual é o papel do intelectual nas sociedades contemporâneas?
FG - O intelectual é pago pelas sociedades para se ocupar do estudo e do saber, que é um trabalho muito menos árduo que a maior parte das tarefas que as sociedades modernas exigem às pessoas. Isso implica certos deveres - o dever de informar, o dever de ser rigoroso, o dever de não mentir, de temperar o entusiasmo pela razão, de ver os dois aspectos (que são sempre quatro ou cinco ou cinquenta) de cada coisa. Suponho que, quando, jovem, alguém se decide pela via do espírito e não por outras, o faz em nome desses valores. E é o mesmo dever sermos-lhes fiéis. Até porque cedo aprendemos que ficaremos sempre aquém.
MJS - Mas as exigências éticas de uma conduta de rigor e verdade não são um imperativo exclusivo do intelectual ou de quem escolheu a via do espírito, como referiu.
FG - Obviamente. O que estou a dizer é que respeitá-las faz parte do contrato do intelectual com a sociedade. Sem por aí pretender transformá-lo num anjo. Pascal disse que o homem não é nem anjo nem animal, "et malheur veut que qui veut faire l'ange, fait la bête". Somos todos, e a cada momento, solicitados a "faire la bête". A dificuldade está em resistir à tentação da traição de que falava Julien Benda, e é renunciar a resistir atolarmo-nos na ideologia em vez de nos esforçarmos por dela nos libertar. É contra isso que o livro "Impasses" foi escrito.
MJS - Acha que a ideologia é sempre redutora?
FG - Sim, acho que é sempre redutora, em todas as circunstâncias. Não reconheço nenhuma vantagem na ideologia. É sempre uma viseira baixada sobre os olhos.
Brilhante a entrevista do filósofo Fernando Gil na PÚBLICA de ontem, feita por Maria João Seixas. Excerto:MJS - Qual é o papel do intelectual nas sociedades contemporâneas?
FG - O intelectual é pago pelas sociedades para se ocupar do estudo e do saber, que é um trabalho muito menos árduo que a maior parte das tarefas que as sociedades modernas exigem às pessoas. Isso implica certos deveres - o dever de informar, o dever de ser rigoroso, o dever de não mentir, de temperar o entusiasmo pela razão, de ver os dois aspectos (que são sempre quatro ou cinco ou cinquenta) de cada coisa. Suponho que, quando, jovem, alguém se decide pela via do espírito e não por outras, o faz em nome desses valores. E é o mesmo dever sermos-lhes fiéis. Até porque cedo aprendemos que ficaremos sempre aquém.
MJS - Mas as exigências éticas de uma conduta de rigor e verdade não são um imperativo exclusivo do intelectual ou de quem escolheu a via do espírito, como referiu.
FG - Obviamente. O que estou a dizer é que respeitá-las faz parte do contrato do intelectual com a sociedade. Sem por aí pretender transformá-lo num anjo. Pascal disse que o homem não é nem anjo nem animal, "et malheur veut que qui veut faire l'ange, fait la bête". Somos todos, e a cada momento, solicitados a "faire la bête". A dificuldade está em resistir à tentação da traição de que falava Julien Benda, e é renunciar a resistir atolarmo-nos na ideologia em vez de nos esforçarmos por dela nos libertar. É contra isso que o livro "Impasses" foi escrito.
MJS - Acha que a ideologia é sempre redutora?
FG - Sim, acho que é sempre redutora, em todas as circunstâncias. Não reconheço nenhuma vantagem na ideologia. É sempre uma viseira baixada sobre os olhos.
<< Home