April 16, 2004

CINEMA
Ainda da edição de hoje da «Esquina» no «Jornal de Negócios»: A propósito da nova Lei do Cinema, que espero seja hoje aprovada na Assembleia da República, não resisto a duas citações que fazem bem o ponto de situação dos interesses em jogo. A primeira é de António-Pedro Vasconcelos que tem sido um dos observadores mais lúcidos do audiovisual português: «uma nova Lei do Cinema não deve servir, como alguns pretendem, para obrigar os portugueses a ver os filmes que se fazem, mas para permitir aos portugueses fazer, enfim, filmes que se vejam». A segunda, nos antípodas, é de João Botelho, um dos arautos do conservadorismo retrógrado em matéria audivisual, que persiste em querer opôr um «cinema do pensamento» a um «cinema do entretenimento» e que afirma que com a nova Lei «a originalidade, a diferença e o património do cinema português podem ser destruídos». Conviria dizer que estas originalidades e diferenças são mais exercícios de estilo para auto-satisfação de alguns e manutenção do «statu quo» do que propriamente um factor artístico criativo que incentive a comunicação com os públicos. O próprio facto de esta comunicação ser entendida como quase pecaminosa por estes ditadores do gosto diz tudo sobre as suas intenções e práticas.