April 15, 2004

BAIRRO ALTO – Nestas primeiras noites primaveris passeia-se no Bairro Alto e vêem-se prédios arranjados, ruas limpas, gente a passear, turistas bem dispostos, até ajuntamentos a ouvir fado vadio. Se não tivesse visto não acreditava.

OS INFALÍVEIS – Em Portugal há uma raça abundante designada por infalíveis. Mandam sempre palpite sobre aquilo que não é sua esfera de acção, sabem sempre o que fazer no território dos outros, têm mil ideias para assuntos em geral e poucas para assuntos em particular, sobretudo os seus. Gostam muito de opinar mas temem fazer. Preferem especular a concretizar.

POLÉMICA QUEIROSIANA – Boa parte do que acima se diz aplica-se à recente coqueluche da polémica nacional, que é sobre Eça de Queiroz. Que falta nos faz um Ramalho Ortigão que destape as carecas com farpas! Mais estrangeirados que qualquer personagem de Eça, surgiram uma série de oponentes a que se crie uma casa de Eça de Queiroz em Lisboa. Vamos passar adiante das miudezas, vamos passar adiante de visões académicas da divulgação da cultura e vamos direitos ao assunto: acham que é um disparate existir em Lisboa um espaço dedicado à divulgação da obra de Eça de Queiroz? Opõem-se à sua criação? Acham mal que uma cidade, cujas ruas e gentes tão retratadas foram nos seus romances, evoque o autor? Preferem que nada se faça?

CLÁSSICOS – Com tanta gente a escrever sobre os novos restaurantes e os restaurantes na moda, aqui fica uma sugestão editorial: uma série sobre os grandes clássicos de Lisboa, como o «Oh Lacerda!», desde os anos 40 na Avenida de Berna, depois de ter começado na antiga Feira Popular, a Palhavã. Nestes clássicos, a que poderíamso juntar outras casas como o «Paris», podemos encontrar cozinha honestíssima, preços aceitáveis, bom serviço. Coisas raras nos restaurantes mais modernaços.

INFLAÇÃO – Em semana de propostas editoriais proponho desde já que se comece a estabelecer um gráfico da inflação em restaurantes e demais hotelaria, com início agora e término no pós-Euro. Assim saberemos se há restaurantes que mantêm preços, quais os aumentos mais absurdos, como se processa a caça à carteira.

CARTAZ – Mais uma sugestão editorial: peguem nos nomes dos cartazes dos festivais de música que se aproximam, façam uma pesquisa na net e depois vejam quais são os que apenas tocam em Lisboa ou os que por cá passam a meio de uma digressão europeia. No fim tirem conclusões sobre a capacidade de atracção turística de um espectáculo que dias depois se repete em Madrid, Barcelona ou Paris.

ALMADA – A não perder a exposição sobre a obra gráfica de Almada Negreiros, em exibição no Palácio Galveias, em Lisboa. Centrada no período em que Almada viveu em Madrid, a exposição tem um bom complemento no livro «Marginália», entretanto editado pela Assírio & Alvim.

PAISAGEM – Perto do Beato há uma pequena galeria, paredes meias com um atelier de arquitectura, que volta e meia tem exposições que são revelações: a galeria chama-se Promontório (R da Fábrica de Material de Guerra,10) e a artista chama-se Mariana Viegas. A exposição dá pelo nome de «paisagem emprestada/borrowed landscape».