A ESQUINA ESCRITA
Excertos do artigo publicado no «Jornal de Negócios» do dia 19 de Dezembro:
SOBRE A POLÍTICA
Quando se olha para o panorama dos diversos partidos começa a ser preocupante a falta de renovação de quadros, o não surgimento de novas gerações de dirigentes, a quase nula capacidade de atracção dos mais novos para a actividade política, para os actos de cidadania que fazem a nossa sociedade viver.
Mas não é só nos partidos que isto se nota – a falta de interesse pela participação cívica no dia-a-dia atinge todos os sectores. Organizações não governamentais, fóruns de debate, associações locais ou regionais mostram evidentes sinais de dificuldades de mobilização.
A sensação que tenho é que existe cada vez mais gente a achar que a actividade política é uma coisa desinteressante, que os partidos políticos são o refúgio dos párias, retomando-se aos poucos aquela velha percepção de que pessoas sérias não se devem meter na política.
Este sentimento, que alastra todos os dias, tem obviamente as suas razões para se ter propagado. Mas a maior das razões é a falta de mecanismos que levem as pessoas, desde cedo, a interessar-se pela participação cívica, que levem os mais novos a perceber que não basta ter uma opinião e exprimi-la, que também é importante organizar pessoas em torno de uma ideia e, em conjunto, lutar por ela.
Quando olhamos à nossa volta e comparamos o rol de efectivos e activos na política (seja no Governo, seja na oposição), notamos uma enorme diferença para o que existia há uns anos atrás: aos poucos os mais experientes, os melhores políticos e parlamentares foram-se afastando da política activa para outras actividades. De certa forma entrou em acção uma segunda linha, pouco experiente, pouco mobilizadora, às vezes decepcionante.
Há muitas razões para isto e certamente a falta de cuidado na dignificação da actividade política, a recusa em encarar de frente a necessidade de efectuar uma reforma do sistema que aproxime os eleitos dos cidadãos, a eterna falta de coragem em abordar os vencimentos dos políticos e em conseguir remunerá-los ao nível de outros dirigentes, são causas evidentes de que muita gente se desmotive e não pense nunca na política como uma actividade prestigiante e fundamental do ponto de vista cívico.
Precisamos de bons autarcas, desde as Juntas de Freguesia até às Câmaras Municipais, precisamos de deputados activos num Parlamento mais dinâmico, precisamos de organizações que mobilizem os cidadãos e que não pensem só neles durante os períodos eleitorais.
Daqui a poucos meses assinalam-se 30 anos sobre o 25 de Abril de 1974, sobre a mudança de regime, sobre o surgimento de partidos políticos. Várias gerações não sabem hoje o que era viver com censura, sem liberdade de expressão, sem eleições, sem partidos políticos, na verdade sem actividade política. Estas gerações entendem mal a razão de ser da participação na política, têm tendência a achar que isso é actividade menor e não percebem muitas vezes sequer porque há quem se meta nisso.
A reforma do nosso sistema político, que está à beira dos 30 anos, é uma necessidade se queremos estimular a participação cívica. Há assuntos que devem ser encarados de frente para que mais gente se interesse pela política, aceite fazer parte de listas, aceite candidatar-se. Precisamos de uma nova geração de políticos e dirigentes partidários que saiba falar a linguagem da sua própria geração, que saiba quais são os temas que devem marcar a sua agenda, que se preocupe em fomentar a participação dos cidadãos utilizando as novas tecnologias.
Estamos a um passo da democracia electrónica – que começa a ser uma realidade em alguns pontos do mundo. Não podemos continuar a olhar para a política apenas como um festival de oratória.
Excertos do artigo publicado no «Jornal de Negócios» do dia 19 de Dezembro:
SOBRE A POLÍTICA
Quando se olha para o panorama dos diversos partidos começa a ser preocupante a falta de renovação de quadros, o não surgimento de novas gerações de dirigentes, a quase nula capacidade de atracção dos mais novos para a actividade política, para os actos de cidadania que fazem a nossa sociedade viver.
Mas não é só nos partidos que isto se nota – a falta de interesse pela participação cívica no dia-a-dia atinge todos os sectores. Organizações não governamentais, fóruns de debate, associações locais ou regionais mostram evidentes sinais de dificuldades de mobilização.
A sensação que tenho é que existe cada vez mais gente a achar que a actividade política é uma coisa desinteressante, que os partidos políticos são o refúgio dos párias, retomando-se aos poucos aquela velha percepção de que pessoas sérias não se devem meter na política.
Este sentimento, que alastra todos os dias, tem obviamente as suas razões para se ter propagado. Mas a maior das razões é a falta de mecanismos que levem as pessoas, desde cedo, a interessar-se pela participação cívica, que levem os mais novos a perceber que não basta ter uma opinião e exprimi-la, que também é importante organizar pessoas em torno de uma ideia e, em conjunto, lutar por ela.
Quando olhamos à nossa volta e comparamos o rol de efectivos e activos na política (seja no Governo, seja na oposição), notamos uma enorme diferença para o que existia há uns anos atrás: aos poucos os mais experientes, os melhores políticos e parlamentares foram-se afastando da política activa para outras actividades. De certa forma entrou em acção uma segunda linha, pouco experiente, pouco mobilizadora, às vezes decepcionante.
Há muitas razões para isto e certamente a falta de cuidado na dignificação da actividade política, a recusa em encarar de frente a necessidade de efectuar uma reforma do sistema que aproxime os eleitos dos cidadãos, a eterna falta de coragem em abordar os vencimentos dos políticos e em conseguir remunerá-los ao nível de outros dirigentes, são causas evidentes de que muita gente se desmotive e não pense nunca na política como uma actividade prestigiante e fundamental do ponto de vista cívico.
Precisamos de bons autarcas, desde as Juntas de Freguesia até às Câmaras Municipais, precisamos de deputados activos num Parlamento mais dinâmico, precisamos de organizações que mobilizem os cidadãos e que não pensem só neles durante os períodos eleitorais.
Daqui a poucos meses assinalam-se 30 anos sobre o 25 de Abril de 1974, sobre a mudança de regime, sobre o surgimento de partidos políticos. Várias gerações não sabem hoje o que era viver com censura, sem liberdade de expressão, sem eleições, sem partidos políticos, na verdade sem actividade política. Estas gerações entendem mal a razão de ser da participação na política, têm tendência a achar que isso é actividade menor e não percebem muitas vezes sequer porque há quem se meta nisso.
A reforma do nosso sistema político, que está à beira dos 30 anos, é uma necessidade se queremos estimular a participação cívica. Há assuntos que devem ser encarados de frente para que mais gente se interesse pela política, aceite fazer parte de listas, aceite candidatar-se. Precisamos de uma nova geração de políticos e dirigentes partidários que saiba falar a linguagem da sua própria geração, que saiba quais são os temas que devem marcar a sua agenda, que se preocupe em fomentar a participação dos cidadãos utilizando as novas tecnologias.
Estamos a um passo da democracia electrónica – que começa a ser uma realidade em alguns pontos do mundo. Não podemos continuar a olhar para a política apenas como um festival de oratória.
<< Home