September 03, 2003

COUNTDOWN
Hoje sinto-me como o astronauta dentro do vai-vem espacial, no momento em que começa a contagem regressiva para o lançamento. O lançamento de que falo é o do novo canal 2, sobre o qual tenho lido tantas incorrecções e mentiras que nem vale a pena comentar - resta esperar que o tempo esclareça os factos. À medida que os dias foram passando ficou muito claro quem é que tem por objectivo principal evitar que alguma coisa mude e quem está genuinamente interessado em fazer a experiência de um canal de televisão que não tenha os olhos (e o espaço) fechados à sociedade e que seja humilde no relacionamento. Falar em humildade no mundo da televisão - sobretudo numa estrutura antiga e pesada como a RTP em que os pequenos poderes constituem um guia exaustivo do achincalhar do ser humano - releva de pura inconsciência. Tenho constatado um velho princípio: quanto mais insignificantes e recalcados mais cruéis se tornam, mais mesquinhamente se comportam, mais obstáculos inventam, mais burocraticamente se escondem atrás de normas e regulamentos. Hoje em dia acredito que boa parte do problema vem daquele edifício incrível da 5 de Outubro, que é em muito responsável pela cultura de empresa que se foi estabelecendo ao longo dos anos: conspirar nos gabinetes de portas fechadas e decidir no corredor. A estrutura do edifício (inicialmente era para ser um hotel) é feita para criar esconderijos, nichos de poder, preservar a conspiração. E quem lá vive há muitos anos habituou-se a isso: por vezes perde-se mais tempo a analisar a situação interna do que a trabalhar para o exterior. Não acham isto paradoxal num orgão de comunicação de massas?