September 18, 2006

ESCALA – A General Motors juntou no Lincoln Center de Nova York os principais media do país (Time Warner, Viacom, Universal, Walt Disney, Google, NBC, etc) naquilo a que chamou «The First Media Partner Summit». Em causa um bolo publicitário de 4,4 mil milhões de dólares e a General Motors quer saber o que é que os media em que ela mais investe estão dispostos a fazer por ela para garantir a continuação desse investimento. Na mesa e na plateia não estavam segundas figuras – apenas os membros das administrações das empresas presentes, a começar, é claro, pela afintriã General Motors. Notem bem: estiveram todos, ao mesmo tempo, a falar uns em frente dos outros – não foi almocinhos separados com cada um. Questão de escala. E de mentalidade.

SURPRESA – As grandes companhias de media norte-americanas estão a conseguir disputar uma parte importante do investimento publicitário na Internet. Um estudo recente da VSS mostra que as áreas on line e de dispositivos móveis dos grandes grupos de comunicação tradicionais subiram dos 23 por cento que detinham em 2000 para 37 por cento no bolo global de investimento publicitário neste sector, que já atinge 22 mil milhões de dólares nos Estados Unidos. O mesmo estudo prevê que em 2010 a publicidade on line e em dispositivos móveis atingira 44 mil milhões de dólares e que nessa altura as companhias de media tradicionais captarão 17 mil milhões (39%) desse total. Isto mostra, inesperadamente, a capacidade de adaptação crescente dos grandes grupos de imprensa, rádio e televisão tradicionais, face a rivais como o Yahoo e o Google, conclui o estudo.

CHINA – A Paramount norte-americana vai assegurar a produção de uma versão chinesa do seu concurso «A próxima Top Model». A produção, em mandarim, será feita em Xangai e irá para o ar no prime time aos sábados, na Dragon TV, a partir de Janeiro. Este formato existe já em 13 países.

PACTO – O pacto de regime sobre a justiça é uma ideia que vem de um anterior Governo, convém já agora que as memórias não se percam. Adiante, o pacto está feito e, admitamos, era mais ou menos consensual. O Governo fez boa figura, a oposição fez boa figura, o Presidente da República aplaudiu. Ninguém gritou: «O Rei vai nu!»…até ao dia em que o Primeiro-Ministro esclareceu não estar disposto a um pacto em matéria da reforma do sistema de previdência. O pacto da justiça serviu para atirar poeira para os olhos – aquele que era verdadeiramente importante para as gerações vindouras era o da previdência – mas aí as diferenças ideológicas fizeram-se sentir e José Sócrates preferiu ganhar a simpatia no PS e na esquerda do que ter a coragem de fazer uma reforma séria que, essa sim, seria estrutural para o futuro. Escudou-se em demagogia e propaganda populista para iludir a questão central: o sistema que o PSD propõe é o que vigora na maior parte dos países que há mais tempo pertencem à Comunidade Europeia, a própria Espanha adoptou um regime parecido, misto, e em última análise a questão é esta: aos contribuintes custaria o mesmo, os efeitos finais seriam melhor, o Estado é qwue arrecadaria menos receita, mas teria também menos despesa. E num Governo socialista é impensável diminuir o papel do Estado. A prova dos nove está aí, à vista.

REGULAÇÃO – As três estações comerciais de televisão (RTP, SIC e TVI) fizeram um pacto de auto-regulação sobre uma série de matérias sensíveis. Não precisaram da Entidade Reguladora para o mediar. Fizeram-no depressa e bem. Sem o Estado pelo meio. Foi uma boa ideia.

OUVIR – Belas canções clássicas, standards americanos como «As Time Goês By» ou «Besame Mucho», ou ainda uma versão particularmente malandreca de «Back In Town» por uma das novas vozes do soft jazz – Matt Dusk. O disco prima pelos arranjos, alguns inesperados, e por uma boa disposição contagiante. Ideal para noites românticas. CD «Back In Town», por Matt Dusk, distribuição Universal.

PERGUNTA VADIA – Não acham que com o novo visual ligeiramente despenteado e as patilhas maiorzitas o Primeiro-Ministro anda a querer ficar parecido com Geroge Clooney?

BACK TO BASICS – Não é bom sinal quando as únicas pessoas que se gabam de saber governar o país estão ocupadas a guiar táxis ou a cortar cabelos (George Burns).

September 14, 2006

GRATUITOS – A guerra entre os novos vespertinos gratuitos de Londres está ao rubro. De um lado «The London Paper» da News International, que utiliza 700 ardinas de nova geração; do outro o «London Lite», da Associated Newspapers, que utiliza 500 distribuidores. Ambos os jornais imprimem 400.000 exemplares diários e estão na rua a partir das 16h30, nas estações de comboio, metro e grandes pontos de passagem. Se querem ter uma ideia do que é um deles visitem www.thelondonpaper.com .
DESPORTO – E a guerra vai ainda aumentar mais quando na sexta feira 29 de Setembro começar a ser distribuído um jornal semanal de desporto, o «Sport». Inicialmente apenas com distribuição em Londres e uma tiragem de 350.000 exemplares, o «Sport» projecta ter distribuição nas principais cidades britânicas daqui a algumas semanas, prevendo um aumento de número de exemplares impressos. O jornal é distribuído entre as sete e as nove e meia da manhã no metro, comboios, ginásios, clubes desportivos e sedes de empresas, além de algumas das principais linhas aéreas. O investimento inicial é de sete milhões de libras. O «Sport» é um formato francês que existe há cerca de dois anos e foi criado pela Sport, Media et Stratégie. Distribui 525.000 exemplares por semana em 11 cidades francesas e começou a dar lucros a partir do final de 2005. Grandes fotografias, entrevistas de fundo, antecipação dos principais jogos, um guia do desporto na TV, desportos radicais e um mix que dedica 2/e do espaço ao futebol e o resto a outras modalidades é a fórmula de um dos grandes casos de sucesso no domínio dos jornais gratuitos.
DIGITAL – A área de televisão da Warner acaba de criar o Studio 2.0, uma empresa que vai desenvolver projectos expressamente concebidos para distribuição via banda larga e dispositivos sem fios, nomeadamente programas de curta duração, de imagem real e animação. O objectivo é licenciar este programas a sites da Internet e operadores de telecomunicações e a Warner é o primeiro dos grandes estúdios de Hollywood a entrar nesta área.
CURIOSO- Um recente inquérito à segurança rodoviária realizado na Rússia indica que um quarto dos condutores russos praticam diversas formas de actividade sexual ao mesmo tempo que conduzem os seus automóveis. O estudo foi patrocinado pelos pneus Goodyear para tentar perceber a razão porque cada vez há mais acidentes nas estradas russas.
POLÍTICA – Um bom amigo meu resumia assim a situação política desta maneira:« não há que enganar, a direita finalmente é maioritária e abrange um leque cada vez mais alargado, que vai de Jaime Nogueira Pinto a António Costa, com Sócrates mais ou menos a meio do gráfico».
LER – A revista portuguesa «Attitude» está cada vez melhor do ponto de vista de conteúdo. Centrada na arquitectura, arte, design e interiores, a «Attitude» é editada no Porto, vai na sua oitava edição, tem um arranjo gráfico cuidado, uma edição fotográfica criteriosa e o dossier sobre Amsterdão que vem nesta edição é de leitura obrigatória para quem quiser visitar a cidade.
OUVIR – Sem saudosismos nem pieguices o novo disco de Bob Dylan, «Modern Times», é uma belíssima surpresa. Aos 65 anos Dylan continua a mostrar saber fazer grandes canções, que se desenrolam de forma natural. Muito «bluesy», com um ritmo bem marcado, «Modern Times» merece que os mais relutantes não torçam o nariz e ouçam as dez canções novas que aqui estão. É absolutamente surpreendente que Dylan, ao fim de todo este tempo (o seu primeiro disco data de 1962), continue a afirmar o seu talento. Se tivesse que escolher três das dez canções apontava já «Someday Baby» , «Beyond The Horizon» e «Ain’t Talkin». CD Columbia, distribuído por Sony Music.
COPOS – Procura um lugar invulgar para um copo ao fim da tarde no centro de Lisboa? Experimente o bar 39 Degraus, na Cinemateca Portuguesa, Rua Barata Salgueiro 39. O bar – cafetaria serve almoços ligeiros entre o meia dia e meia e as três e jantares até as dez e meia. Fecha ao Domingo e a qualidade é boa. Tel. 213 596 200.
BACK TO BASICS – Uma noite de verão é como um pensamento perfeito, Wallace Stevens

September 04, 2006

DIGITAL – De acordo com um estudo da Datamonitor, na Europa e nos Estados Unidos existirão 187 milhões de lares com televisão digital em 2010, prevendo-se que o Velho Continente ultrapasse os Estados Unidos no final desse ano. O estudo prevê que, no final de 2009, 63% dos lares das duas regiões terão acesso à televisão digital. Actualmente já mais de 100 milhões de lares na Europa e Estados Unidos utilizam a televisão digital. Na Europa o mercado britânico é o mais desenvolvido, com uma penetração superior a 50%. O futuro não parece no entanto tão brilhante para a televisão por banda larga – na realidade as estimativas apontam para apenas 9% dos utilizadores a acederem ao digital por esta tecnologia (que inclui o acesso ADSL).

SILÊNCIO – Há silêncios muito ruidosos. No meio de toda a novela sobre a dimensão do controlo governamental da informação do serviço público, sente-se a falta de uma análise do provedor dos telespectadores ao alinhamento dos telejornais, em relação à questão em causa, o incêndio no Gerês.

FUTEBOL – Se dúvidas ainda existissem, a trapalhada no arranque da Liga e o somatório de disparates ditos e praticados por todas as partes na questão que opõe o Gil Vicente ao Belenenses, chegaria para demonstrar que o futebol continua a não ser visto nem como um desporto, nem como um saudável negócio de entretenimento, mas como um terreno de golpadas.

LER – A edição da revista «The Economist» do passado dia 26 de Setembro, com o título de capa «Who Killed The Newspaper?» - trata-se de uma das análises mais lúcidas sobre as origens da crise que atinge os jornais um pouco por todo o mundo. A revista dedica ao tema o editorial e um artigo de três páginas. O editorial abre com uma frase de Arthur Miller: «Um bom jornal, creio, é o país a falar consigo próprio». É daqui que se parte para uma visão desassombrada das relações entre poder político, poder económico e os media. No caso dos jornais mostra-se como o afastamento das realidades locais, do noticiário de proximidade, fez perder leitores; mostram-se exemplos de boa utilização das edições digitais, quer do ponto de vista editorial, quer do ponto de vista comercial. O artigo é muito reveladoramente intitulado «More media, less news». A qualidade e diversidade do conteúdo reflecte-se nas audiências – disso já ninguém tem dúvidas – e isso tem efeitos graves na publicidade. Estudos citados dizem que em 1995 a imprensa captava 36% do investimento publicitário global; esse número desceu para 30% em 2005 e cairá pelo menos para 25% em 2015. O artigo faz notar que as empresas de media são das únicas que praticamente não investem em investigação e desenvolvimento de novos produtos e novos negócios e mostra uma série de bons exemplos surgidos nos últimos tempos, num equilíbrio entre bom jornalismo e sentido comercial. Aqui está algo que devia fazer pensar algumas pessoas neste país.

OUVIR – Um dos discos mais emocionantes que ouvi este ano é a banda sonora do filme-documentário «Leonard Cohen – I’m Your Man», realizado por Lian Lunson. Todas as canções que integram esta banda sonora foram gravadas ao vivo no Brighton Festival de 2004, numa noite especial intitulada «Came So Far For Beauty: An Evening Of Leonard Cohen Songs». Este é daqueles discos que inevitavelmente nos fazem pensar em alguém e nos fazem sentir saudades. De entre os 16 temas destaco a versão de «I’m Your Man» por Nick Cave, a de «Sisters Of Mercy» por Beth Orton, a fantástica forma de Rufus Wainright cantar «Chelsea Hotel no. 2» e «Everybody Knows», ou the Antony interpretar «If It Will Be Your Will». Mas vale a pena também reter a forma como os The Handsome Family cantam «Famous Blue Raincoat», como Perla Batalla interpreta «Bird On The Wire» e uma versão de «Suzanne» por um trio de peso: Nick Cave, Julie Christensen e Perla Batalla. O disco, faltou dizer, termina com os U2 a acompanharem o próprio Leonard Cohen em «Tower Song». Claramente canções tórridas. (CD Universal).

CLÁSSICO – A esplanada do Toni, em Sesimbra, nas noites quentes. Experimentem as amêijoas, as gambas, se houver Imperador atirem-se a ele. Esta é uma daquelas marisqueiras históricas que continuam a ser incontornáveis. No centro de Sesimbra, Largo dos Bombaldes, tel 212 233 199.

BACK TO BASICS – Metade da população nunca leu um jornal e metade nunca votou – esperemos que seja a mesma metade (Gore Vidal).

September 01, 2006

UM REGIME PERIGOSO
(sobre o fim de «O INDEPENDENTE»)

O regime patrocina o apoliticismo, o amorfismo, o acriticismo, enaltece o cinzentismo, cuida religiosamente do dogma da infalibilidade de quem manda e promove os guardiões do templo. Aos poucos, nos últimos anos, foi-se reduzindo o leque de sensibilidades com presença relevante nos media portugueses.

O futuro analisará o peso que teve a concentração de media no universo da PT num panorama de efectiva diminuição de liberdade de escolha dos leitores e de consequente declínio da qualidade dos títulos.

Num universo de degradação da experiência e qualidade das redacções, a agência noticiosa volta a ganhar relevância – que não teve durante uma série de anos. Hoje a taxa de publicação ipsis-verbis dos despachos da agência é maior que nos anos 90 e isso é sinal do desinvestimento nas redacções e da degradação da qualidade do produto final. Não há-de ser por acaso que o Governo e seus apêndices estrategicamente colocados dedicaram particular atenção à nomeação de um director para a agência Lusa, que já se tornou conhecido entre os jornalistas por querer ler de fio a pavio, com especial atenção, todo o noticiário político antes de ele ser enviado para a linha.

Hoje em dia a imprensa portuguesa está qualitativamente pior que há uns anos, é menos informativa, mais opinativa, e inevitavelmente, perdeu capacidade de iniciativa e desprezou a proximidade aos públicos destinatários. A agenda dos jornais é ditada de fora – não pela actualidade, mas pelo trabalho de assessores de governos, de empresas, de instituições. Mais do que sugerir o que se deve ler, o trabalho de todos estes profissionais dedica-se a evitar que algumas coisas sejam ditas, escritas, abordadas. São os assessores do silêncio e na realidade são eles que mandam em muitos media portugueses. Querem encontrar uma razão para a semelhança e vacuidade da generalidade dos media? Comecem por analisar a coisa por este prisma.

O espectro geral do que se pode ler é mais reduzido, é mais fácil manipular a informação e a opinião do que há uns anos atrás. Há menos vozes contra, há menos media críticos, há menos jornalismo de investigação, há menos procura de histórias que acrescentem alguma coisa de novo.

Quando um regime sorri ao ver diminuir o leque de informação de que a sociedade dispõe as coisas não vão nada bem; e quando a sociedade fica impassível assistindo à redução da sua possibilidade de escolha, então o assunto é mesmo sério.


Nota – Quando «O Independente» nasceu em 1988 eu era seu subdirector. Ao longo destes 18 anos de vida estive quase sempre mais ou menos ligado ao jornal. O «Indy» nasceu como um projecto contra a passividade, que é o que hoje abunda na sociedade portuguesa. Tenho muita honra em me terem deixado sempre escrever nestas páginas.

Faz falta um jornal assim – que saiba dizer não. Que saiba dizer: Basta!
O PONTO DE PARTIDA
Os jornais acabam quando empresarialmente já não fazem sentido, não há volta a dar ao assunto. «O Independente» nasceu contra a passividade, uma coisa que hoje abunda na sociedade portuguesa. Para além das razões que levaram à situação actual, a verdade é que o fecho de «O Independente» significa uma redução do leque de sensibilidades presentes nos media portugueses - é um sinal político destes tempos onde o controlo da informação aperta e onde é arriscado abraçar - mesmo empresarialmente - projectos incómodos. O regime é cinzento e acinzenta tudo à sua volta.
Vale a pena recordar que «O Independente» foi o ponto de partida para um dos poucos grupos económicos exclusivamente dedicados aos media e com sucesso que existe em Portugal. Um grupo de capitalistas com coragem e sentido de risco juntou-se para criar uma empresa de comunicação e não interferiu no produto. Esses fundadores de «O Independente», os que o financiaram desde o início, merecem hoje uma palavra - até porque, a verdade, é que a situação mudou tanto que não sei se hoje seria possível juntar um investimento tão significativo como aquele que, há 18 anos, permitiu fundar um jornal assumidamente de direita num universo mediático que continua predominantemente alinhado à esquerda.