July 31, 2003

BLOG THEORY
Eduardo Prado Coelho writes about blogs in «Horizon's Line», his regular editorial in «Público». The philosopher considers blogs a new trend for the current summer. Excerpt: «It is indeed a fact that there is a new mechanism, a new way to participate in the public spectrum and that this new way has a new feeling and a different energy».
The same article also indicated green tea as a new trend for this year's summer but said nothing else about it.
Before summer it was reported that Coelho would be himself a regular contributor to a new left-biased blog, but nothing seems to have happened until now. Close observers say that the delay is due to the heat wave.
DÚVIDA
O que é preciso para convencer alguém a fazer uma coisa que à partida não quer? Argumentos? Raciocínios? Mensagens públicas num blog?
QUASE
Férias quase a acabar. Último dia de praia. Apetece-me uma salada de mexilhões e uma cerveja.
CALOR
Odeio calor a mais. Prefiro um pouco de frio que calor demais. Até a praia fica incómoda. Detesto estar a escrever e sentir a testa a ficar encharcada. Devia ter cortado o cabelo antes de vir para a praia?

July 30, 2003

AMOR?
Pode o amor existir nos Blogs? Pode, se existir fora deles. Ou não é?
QUE NÓIA!
O que se passou no Sporting com o Estádio, forrado a casa de banho por fora e ainda, por cima, a que leio em todo o lado, cheio de erros por dentro? Até corei a ler hoje o Jornal de Negócios. Aquela de colocarem os invisuais atrás de um placard nem no Burkina Faso seria possível.
BOA PERGUNTA
Como é que o progresso tecnológico, e os telefones móveis capazes de enviar texto e imagem de qualquer lugar, vão modificar o jornalismo e a reportagem? Interessante debate na Online Journalism Review.
QUASE NADA
Há dias em que o calor é tanto que não apetece fazer quase nada a não ser pensar num sítio simpático, com ar condicionado e boa comida para o jantar. Acreditem que encontrar uma coisa destas no Algarve não é tarefa fácil.
CURIOSIDADE
Vale a pena dar uma vista de olhos a esta notícia da Wired sobre uma nova forma de publicação virtual destinada a pequenas comunidades e à necessidade que elas têm de obter alguma informação especializada.
MAIS BRASIL
Com a devida vénia ao Francisco, cito o Aviz que desenvolveu muito bem o que aqui se citou do No Mínimo:BRASIL, LULA. O Esquina do Rio escreve sobre um texto de Augusto Nunes, publicado no sempre imprescindível No Mínimo a propósito da figura de Oswaldo Aranha e do desencanto sobre Lula. Diz o Manuel: «Percebe-se como o desencanto com o folclore de Lula começa a nascer um pouco por todo o lado, e em primeiro lugar pelos jornalistas e opinidores que o louvaram em tempos.» Ora bem. Esse desencanto já estava por aí, e não tem a ver com a figura de Lula, uma espécie de «redentor dos tempos modernos brasileiros» — basta ler certos textos de Arnaldo Jabor, por exemplo, desde o princípio. O problema da «imagem de Lula» em Portugal, por exemplo, é que a esquerda quer que tudo «dê certo», não por causa do Brasil propriamente dito, mas para redimi-la das asneiras praticadas aqui. Lula tem um peso extraordinário às costas — uma falange imensa de fracassados vê em Lula a última oportunidade para demonstrar que as coisas podem «dar certo». E uma vasta multidão de excluídos, humilhados e pobres — pobres mesmo, pobres e sem casa, pobres e sem futuro, deserdados mesmo, e não intelectuais de esquerda da Unicamp e da USP — espera o mesmo dele. Isso é injusto para Lula. Mas as reformas do governo PT são, ou não são, as que o PT chumbou quando foram apresentadas pelo governo de FHC? Por isso, o desencanto é fatal: porque tem dois lados. O dos que acham que Lula é tímido nas reformas e está apenas a continuar o programa de FHC, a aplicar ideias de José Serra — e que devia emitir, como disse a fantástica senadora Heloísa Helena, um mandato de captura internacional contra o FMI; e o dos que acham que o espectáculo do PT, da suas alianças, de Lula a jogar futebol, das ameaças de Stédile, do novo folclore das «estatais», da degradação do Ministério da Educação, da governamentalização progressiva das agências de controle energético, etc., — só vai contribuir para que «não dê certo». Esse é o drama, caro Manuel.

July 29, 2003

SERVIÇO PÚBLICO
Não resisto a citar um excerto da introdução escrita por Moisés de Lemos Martins ao livro «Televisão e Cidadania, contributos para o debate sobre o serviço público, editado pelo Núcleo de Estudos de Comunicação e Sociedade do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, sob coordenação de Manuel Pinto . Então aqui vai: A sociedade civil funda-se no amor pela liberdade, pois apenas os actos livres podem demonstrar a sua existência. Será então um acto de liberdade cívica, por exemplo, aceitar pagar uma taxa que assegure a estabilidade financeira da televisão pública. Essa é, aliás, uma condição necessária, embora não suficiente, a um serviço público de televisão. Como garantir de outro modo a sua independência política diante dos governos e a qualidade da sua programação no meio da impiedosa selva da concorrência entre anunciantes? É também um acto de liberdade cívica fiscalizar o serviço público prestado. Fiscalizar é assegurar qualidade. E não será menor acto de liberdade cívica participar na produção de conteúdos. Aos criadores, promotores e divulgadores culturais, às Universidades, designadamente àquelas que formam profissionais dos media, às instituições educativas, científicas, artísticas e culturais, devem ser garantidas efectivas condições de acesso às grelhas de programação, por exemplo através de um concurso permanente de ideias de programas.
OLHEM PARA BOB HOPE!
O artigo chama-se «The C.E.O. of Comedy» e é um perfil do actor escrito em Dezembro de 1998 por John Lahr para a «New Yorker». Pode ser lido aqui. Excerto para aguçar o apetite: Like any shrewd C.E.O., Hope believed in careful product planning. He employed as many as five press agents at a time, and he brought his particular combination of gall and good-enough looks onstage with a distinctive swagger: chest out, body pitched forward on the balls of his feet, hands cupped behind his swinging arms—as Jack Benny quipped, like a headwaiter trying to get a tip. “He came on as if he were carrying a great weight of almost civic dignity in front of him,” Sir Laurence Olivier once told the BBC. “It’s very amusing.” Hope also established a kind of joke factory, which has remained intact from the late thirties until today. (Even now, he keeps a skeleton crew of two writers on retainer.) “I believe I was the first of the comedians to admit openly that I employed writers,” Hope told William Faith in 1981, in “Bob Hope: A Life in Comedy,” which is perhaps the best book about him. “In the early years of radio, comedians fostered the illusion that all of those funny sayings came right out of their own skulls.”
CURIOSIDADES
Caso estivesse na platéia condenada a assistir ao prosseguimento do drama nacional, o que diria Oswaldo Aranha? O que pensaria do espetáculo hoje protagonizado por Lula da Silva, secundado por homens como João Paulo Cunha e Maurício Corrêa repleto de canastrões procedentes de todos os partidos ou siglas promovidas a “movimentos sociais”? - quem escreve assim é Augusto Nunes, a propósito da figura de Oswaldo Aranha, cujo perfil traça No Mínimo. Navegando por ali percebe-se como o desencanto com o folclore de Lula começa a nascer um pouco por todo o lado, e em primeiro lugar pelos jornalistas e opinidores que o louvaram em tempos. Curioso...
HISTÓRIA
Amigos meus dizem-me que corre por aí um abaixo-assinado a propósito do fim do programa «O Lugar da História» com a mudança que vai acontecer no Canal 2. Como tenho a ver com esta mudança quero esclarecer - e isto já foi dito publicamente - que o facto de um programa acabar enquanto tal não significa que o tema que ele encerra seja descontinuado. Bem pelo contrário, o que vai acontecer é que na realidade existirão mais documentários sobre a temática histórica do que até aqui. A ignorância é a mãe de todos os disparates - mas quando se resolve emitir opinião sem ter os dados todos da questão é o que acontece com maior frequência.
LIMITES
A nossa liberdade acaba onde começa a dos outros - se todos se lembrassem deste princípio basilar a nossa vida era muito mais fácil, o respeito entre todos era muito mais evidente, a justiça seria bem mais simples. A verdade é esta: há limites para a Liberdade, para as várias liberdades - se eles não existirem, muito pura e simplesmente deixa de existir Liberdade. A Liberdade não é um bem infinito.

July 28, 2003

O JANTAR
Há um jantar em Belém. Por junto é a única notícia do dia. A ver vamos se sai sumo ou se é só conversa. Juntar é fácil, mudar é que é mais difícil.
E, depois, não sei bem se a muitos interessa mudar: há quem continue a pensar que não interessa o que acontece aos outros desde que connosco continue tudo bem. Há quem continue a achar que os princípios são uma ideia geral. Há quem continue a achar que somos todos iguais, mas que uns são mais iguais que outros. Há quem continue, pura e simplesmente, a não se interessar enquanto o caso não lhe bater à porta. Isto resume, penso eu, o que se passou no país nos últimos seis meses.
Acho bem que se mude o que tiver de mudar, que se corrija o que estiver mal, que haja consenso sobre estas coisas, mas que se faça justiça, que não se protejam ainda mais os que já são protegidos, que não se estabeleçam protecções especiais a coberto de cargos. Para o cidadão comum o que interessa é que sejamos de facto todos iguais, com os mesmos direitos e deveres. Entre os políticos há quem, subliminarmente, queira um tratamento especial. Entre os jornalistas, convém dizê-lo, também surgem vozes a apelar a uma «descriminação positiva».
Este filme tem justiceiros a mais, esperemos que as verdadeiras vítimas, os que foram molestados, não acabem mais vítimas ainda de protecções especiais que se estabeleçam e que acabem por levar este caso a lado nenhum.

July 27, 2003

IGUAL
Cada vez que vejo um carro igual ao teu vejo-te lá dentro.
DOMINGO
Hoje a praia vai estar cheia, os restaurantes insuportáveis. Fico por aqui, no jardim, bem sentadinho, a ouvir uns discos («Footsteps Of Our Fathers» de Branford Marsalis e «Up For It» de Keith Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette) e a deliciar-me com um extraordinário livro sobre História recente: «Hitler & Churchill, Secrets Of Leadership», de Andrew Roberts. Pelo meio umas cervejotas, mais para a tarde um vodkita. Parece-me que a coisa não vai correr mal.
PILHAGENS
Outro dia o Pedro Lomba escrevia assim:Estou sem assunto para escrever. Mas esperem aí que ainda não li os jornais. na sua Flor De Obsessão . Também ando há uns dias à volta do mesmo. Já li os jornais todos e resta-me pilhar os blogs dos outros para ter um bloguito para escrever. Para retratar o estado actual dos temas da imprensa sugiro a página 28 do «Público» de hoje, dedicado a este tema: «Burro mirandês reconquista lentamente a importância perdida». Tem uma caixa com um título também sugestivo: «Novas utilizações para o animal». E ao lado podem ler-se «Curiosidades Asininas», com especial destaque para a problemática das burras com cio.
HÁ MUITO TEMPO QUE NÃO ME DIVERTIA ASSIM
Não resisto a uma citação, que aqui fica com a devida vénia ao seu autor, Pedro Mexia:AO SÁBADO SOU MASOQUISTA: Lá me esforcei, como de costume, por ler até ao fim um único colunista do primeiro caderno do Expresso, e como sempre caí no tédio mais desesperado (embora a enésima ruminação do Prof. Espada sobre a gentlemanship seja antológica). E depois, o primeiro caderno do Expresso tem para mim esta característica exasperante: mesmo quando concordo com a opinião de um artigo (p. ex. sobre o Iraque), nunca concordo com a argumentação usada, com a prosa, como tudo isso. Leio divertido as habituais secções Vamos Acabar Com Este Gajo Para Ver Se O Professor Avança (notícias e opiniões sobre Santana Lopes) e Este Estupor Fez Durante Uns Anos Um Jornal Muito Melhor Que O Nosso (notícias e opiniões sobre Paulo Portas). Depois, amarfanho o lençol de papel e lá vai ele forrar o sítio do gato. Só que eu não tenho gato. . Isto e muito mais pode ser sempre lido no Dicionário do Diabo.

July 26, 2003

FEELING
Nestes dias escaldantes, quando passa uma brisa, é como se me tocasses.
JORNAIS
Compro os jornais todos de atacado: o «Expresso», o «Diário de Notícias», o «Público» e o «Correio da Manhã». Ultimamente cada vez leio mais o «Correio da Manhã» - é que é a única forma de perceber de facto o que vai acontecendo pelo país. Cada um no seu género o «Público» e o «Correio da Manhã» são os melhores jornais portugueses. O «Público» limita mais o leque dos temas, escolhe mais os assuntos. O «Correio da Manhã», pelo contrário, alargou nos últimos meses - tem boas páginas de sociedade, de espectáculos, de informação geral. Costumo dizer que se alguém de repente chegar a Portugal depois de uma ausência longa, é no «Correio da Manhã» que percebe o que se está a passar. O «Diário de Notícias» veio no molho porque hoje é sábado e tem o «DNA» e hoje o «DNA» tem uma entrevista com Gilberto Gil, na qualidade de Ministro da Cultura do Brasil. Leio e confirmo o que já suspeitava: muito folclore.
Quanto ao «Expresso», bom, a primeira página de hoje diz tudo: só mesmo ali é que um tema daqueles pode ser manchete - é a prova de que não há notícias, que a esfera de interesses daquela redacção está mesmo virada do avesso, que se acha merecedora de denúncia (que é de facto o tom do artigo) a tendência sexual de alguém. Alguém havia de oferecer ao «Expresso», um poster com um velho dizer:«a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros». Se se lembrassem mais vezes disto, o efeito na melhoria do jornal seria bem maior do que o do código de conduta que já se percebeu que não serve para nada.
COMPRAS
Aproveito ter acordado cedo e zarpo para o «Apolónia», em Almancil, o melhor supermercado português. Escusam de o procurar porque tem resistido a abrir mais lojas ou a entrar no franchising. Apolónia só há um, o de Almancil e mais nenhum. Importa directamente produtos de todo o mundo, abastece-se nos melhores fornecedores locais. É um exemplo de arrumação, qualidade, escolha, limpeza e iluminação e bom atendimento. Dá gosto ir ali buscar o pão da manhã, os croissants, a manteiga francesa, o queijinho, as salsichas frescas. Passo pelas prateleiras e, mais uma vez, vejo com surpresa que os preços não são, em geral, mais altos que os dos supermercados de Lisboa. Nalguns casos, como o dos vinhos, até se conseguem aqui melhores preços, quer na ampla e boa escolha nacional, quer nas boas propostas importadas. Férias sem Apolónia já nem são férias.
INSÓNIAS
Odeio acordar cedo demais e não conseguir voltar a dormir. Se isso acontece em férias, então a coisa é terrível: tento enganar o acordar e ando à procura de mais uma soneca entre voltas para a direita, voltas para a esquerda, barriga para cima e barriga para baixo. Invariavelmente, ao fim de uma meia hora levanto-me. Na realidade nem acordo sonolento e ando bem disposto. É ao fim do dia que de vez em quando sinto que mais meia horita de sono seguido não me tinha feito mal.

July 25, 2003

QUE
Gostava que acreditasses. Gostava tanto QUE acreditasses. Só.
TENHO
Tenho pena, tenho tanta pena. Estou tão triste.
TV INTERACTIVA
Belo artigo o da Wired sobre a televisão interactiva, a odisseia de já quase 20 anos de diversas formas de televisão não tradicional, desde a «enhanced tv» até aos dias de hoje. Excerto: "Audiences are lazy and TV still caters to the lowest common denominator," quipped Fifth Wheel and Blind Date Co-Executive Producer Harley Tat. "We're operating from a heady place where we're thinking about the future, but plenty of viewers don't have PCs and haven't upgraded their cell phones in years. If the information isn't right in front of them while they're microwaving mac and cheese, it's not going to happen. ETV has to be so simple that they can do it half-baked and horizontal on the couch."

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BLOG CHIC
Encontrei o Nuno Artur Silva, com quem gosto sempre de falar - desde há muitos e bons anos. Vira-se ele para mim, confessa ser leitor assíduo deste blog. Pergunto-lhe: «já tens um?. E ele:« Isto está na fase em que toda a gente tem e eu achei melhor não ter. E eu: «Pareces o Pacheco Pereira a falar dos telemóveis». A conversa parece parva, mas o que é engraçado é que retrata um pouco o estado da nação nesta matéria: de facto os blogs explodiram e graças ao tradicional mecanismo de «I'll scratch your back, you'll scratch mine» que é tão típico em Portugal. Ganhar notoriedade com um blog não é muito difícil: bastam meia dúzia de citações nos blogs certos e, depois, as coisas sucedem em cascata - e o mecanismo das citações recíprocas ajuda a que tudo funcione em efeito de bola de neve. No meio de tudo fica uma questão: o mecanismo das citações recíprocas anula no entanto o efeito confessional essencial dos blogs - melhor, desvia-o do universo em geral para o universo exclusivo da blogosfera. Até que ponto isto tudo se vai tornar redutor é a dúvida que eu tenho.

O QUE FALTOU
Dez horas em Lisboa, a correr de uma reunião para outra e no fim falhei o que eu mais queria.
O SEGREDO
Outro resultado da minha viagem foi a compra de «O Segredo de Joe Gould», de Joseph Mitchell, que o Nelson de Matos me avisou ter sido editado em Portugal pela D. Quixote. É de facto um livro fantástico. Já o comecei a devorar, espero acabar com ele hoje no areal. Em calhando, amanhã volto ao assunto. Para já cito o que Ian McEwan escreveu sobre ele:
um magnífico retrato da fraqueza humana, uma pequena obra-prima de observação e de estilo.
BOM RAW!
Ontem estive em Lisboa e finalmente consegui comprar «Raw», o disco de Kiko de que já se falou por aqui. Vim a ouvi-lo no regresso ao Algarve e dei por bem empregue o dinheiro. Grande voz, sensual, com «funk» a rodos, boa escolha de repertório (de Stevie Wonder a Irving Berlim, passando por Duke Ellington e Cole Porter. Destaque ainda para uma composição de Laurent Filipe, um dos músicos que integra (com Paulo Gomes, Paulo Pinto, Pedro Barreiros e Bruno Pedroso) a sólida formação que acompanha Kiko numa sucessão de arranjos muitíssimo bem conseguidos. Descubram a obra em kikojazz.

July 24, 2003

SILÊNCIO
Hoje estou em crise criativa. Espero voltar aos blogs amanhã. Quando não se tem nada para dizer, o melhor é estar calado.
Fico assim a pensar que esse é um dos problemas dos media tradicionais: é sempre preciso encontrar alguma coisa para dizer, matéria para encher as páginas de papel ou os minutos de rádio e de televisão. Aprendi o que sei nesta vida de comunicação numa agência noticiosa. O «lead» da notícia só podia ter 35 palavras - nem mais uma. Passar das 20 linhas de então (no tempo dos telex) era facto insólito. Habituei-me a ser parco nas palavras. A recolher apenas o essencial. A ver o que era notícia e podia usar as 20 linhas ou o que não era nada e não tinha lugar. A agência só emitia um telex se houvesse alguma coisa a dizer. Reportava, não inventava.
Vejo hoje as semelhanças que, de certo modo, existem com os blogs: aqui só vale a pena escrever quando há alguma coisa a dizer. Não há obrigatoriedade de que alguma coisa aconteça. Ainda bem.
ESCUTAS
Das duas uma: ou isto das escutas se resolve e esclarece ou vai acabar por destruir o próprio processo onde nasceram.
Das duas uma: ou o segredo de justiça começa a ser levado a sério, ou da maneira como as coisas estão hoje em dia vai deixar de haver justiça de vez.
Das duas uma: Ou este processo provoca resultados, ou o povo em geral deixa mesmo de acreditar nisto tudo.
SAUDADES
Já tinha saudades de estar aqui com o meu blog, a olhar para vocês. É curiosa esta comunicação: nunca vos vejo, mas sei quantos são, de onde vêm, os contadores de visitas dão-me dados preciosos. É engraçado ver o fluxo de visitas ao longo do dia, perceber quais são as horas de ponta.
As reacções que se obtêm são completamente diferentes das dos jornais - durante anos escrevi colunas semanais que nunca motivaram grandes mails. Agora, tenho sempre alguém de novo à espreita no hotmail. Boa.

July 23, 2003

SILLY SEASON 4
Porque é que as mulheres param sempre em dupla fila frente à loja onde vão estar meia hora a provar trapos? E porque é que refilam quando um cidadão que ficou com o carro trancado com o delas faz má cara ao fim de dez minutos a buzinar sem ninguém aparecer? Porque é que as mulheres acham que os seus carros não devem seguir as regras de estacionamento aplicáveis ao geral da população?
SILLY SEASON 3
Todos os dias começam da mesma maneira: frente à banca de jornais. Olho para os títulos, folheio alguns, levo outros. Na capa de uma revista leio que afinal o casamento de Alexandra Lencastre vai sobre rodas; noutra, mesmo ao lado, fico a saber que a estrela da versão hard da «Música no Coração», conhecida por «Ana & os Sete»está radiante no romance com o novo namorado. É de mim ou o calor afectou os cérebros?
SILLY SEASON 2
Descobriu-se agora o que já toda a gente sabia: o edifício do El Corte Inglés foi feito à revelia das normas legais, das licenças de construção e, ao que parece, de algumas normas de segurança. A coisa demorou ano e meio a descobrir-se, depois de um pedido de inquérito formulado pelo Bloco de Esquerda. Parece que a obra arrancou sem estar devidamente licenciada - mas como era coisa pequena ninguém na Câmara de então deve ter reparado. Só falta agora a Dra. Maria Barroso vir dizer que este ataque a João Soares é mais uma prova de que querem acabar com a família Soares na política portuguesa.
SILLY SEASON 1
Percebo pelos jornais que a grande polémica do Verão se arrisca a ser a mudança de nome do Padre António Vieira. Já vi anúncios de protesto publicados nos jornais, decorre um abaixo assinado, há um e-mail para envio de adesões à campanha: sos.pav@clix.pt . Parece que vão fundir a escola da cidade universitária com o Padre António Vieira e da fusão sai um novo nome. O PAV tem 40 anos, deixou marcas na cidade em em Alvalade. Pessoal do PAV, já sabem o que podem fazer este Verão.

July 22, 2003

OBSERVAÇÃO
Este ano o tempo médio da chegada à mesa da imperial, depois de feito o pedido, nas esplanadas de Vilamoura, anda pelos 12 minutos. A vida não está fácil.
LUA
Não te tenho visto Lua, só às vezes à noite. Percebi que mudei de nome. Chamo-me Miguel, parece. Sempre trocaste nomes, não foi?
BEM VISTO
«LET'S SEE: Segunda-Feira. Vamos ver quantos jornalistas e intelectuais portugueses (a eng. Pintasilgo não conta porque já se sabe o que é que ela pensa) irão associar o Governo de Blair à morte de David Kelly. No fim da semana, fazemos as contas.» - o mérito destas palavras é do Pedro Lomba.
SENTIR
Queria agora esse abraço
SILLY SEASON
No «Público» de ontem vinha, na página 23, a umas sóbrias duas colunas, um artigo sobre uma investigação desenvolvida por um médico, especialista em sexologia, sobre o «swing», vulgo as trocas de casais em Portugal. Parece que a coisa está a crescer. Quando o li pensei logo com os meus botões que a coisa ía de certeza aterrar nos nossos queridos e tablóides telejornais. Foi o que aconteceu, diga-se que de uma forma bastante mais sensacionalista que a discreta noticia do «Público». Curioso curioso foi que o meu filho de 14 anos, passou pela sala a meio da peça, parou um bocado e saíu-se com esta: «-Vê-se mesmo que é Verão e não há notícias».
PRÓ-KIKO
Bem, estou cheio de curiosidade de ouvir o disco do Kiko - a nota que fiz sobre a pena que tive de não o ouvir a vivo, no S.Luiz, motivou uma catadupa de elogios ao cantor e declarações várias de solideriedade com a minha tristeza. Mensagem gratificante foi a do próprio Kiko, que ainda por cima me indicou o seu site. E disse-me uma coisa simpática:tem toda a razão, a divulgação das artes e espectáculos em Portugal vai muito mal. Acho que se conseguia fazer melhor com pombos correios... . E O Carlos Vaz Marques tem razão: se eu fosse mais vezes ao seu bom Outro, Eu se calhar tinha dado por isso. Fica a vontade de ouvir o disco.

July 21, 2003

FORÇA RODRIGO
Depois de uma boa incursão em Espanha com a digressão de «Pasión», Rodrigo Leão está quase a chegar a Portugal e eu estou cheio de vontade de o poder voltar a ver e ouvir. Aqui ficam algumas datas. O CD já está no leitor, por via das dúvidas.
Dia 26 - Cascais - Forte da Cidadela, Dia 2 de Agosto - Óbidos - Muralhas, Dia 7 - Lagos - Auditório Municipal, 22h00, Dia 8 - Tavira - Antiga Fábrica das Conservas, 22h00 e dias 19 e 20 de Agosto, em Lisboa no Teatro Tivoli. Ainda bem que passo Agosto em Lisboa.
MESMO
Sinto-te mesmo sem te ver.
E NÃO VI O KIKO
Tenho pena, mas não vi o Kiko. O Nuno Miguel Guedes afiança que ele é o único cantor de jazz português e eu nestas coisas acredito sempre no Nuno. Fez um disco que se chama «Raw» (e que eu ainda não ouvi) e cantou na semana passada no S. Luiz. Nem sabia, só li o recado do Nuno ontem. Isto traz à conversa uma outra questão, já suscitada aliás na troca de mails com o Nelson de Matos da D.Quixote. É que existe um problema na comunicação de artes e cultura, de edições e espectáculos. Muitas coisas não passam, ou só passam as coisas do costume, ou só passam as produções do costume. Eu que até costumo andar atento ainda não tinha dado pelo Kiko nem pela edição portuguesa do livro de Joseph Mitchell. Alguma coisa está a funcionar mal. O estado da nação em matéria de informação sobre artes, edições e espectáculos bem podia ser uma discussão interessante. Aceitam-se contributos em aesquinadorio@hotmail.com .
FALÉSIA A PIQUE
O ano passado renovaram os bares da Praia da Falésia. O «Tabuínhas», logo o primeiro, perto do pontão, era bem simpático. à frente das operações estava uma holandesa há uns anos em Portugal, a Joanna. A coisa funcionava, o serviço era bom, o ambiente descontraído. Este ano a Joanna foi-se embora e o serviço caíu a pique. Pede-se meloa e vem melão - e o empregado, bem português, diz que não sabe qual é a diferença. Pede-se azeite e pão para as sardinhas e o empregado pergunta porquê.
CONVERSA DE CAFÉ
O sexo feminino tem destas coisas: há uma idade em que já são mulheres, mas em que querem ainda parecer meninas. Isto acontece, geralmente, muito tempo depois de terem deixado de ser meninas e bastante tempo depois dos anos em que queriam mostrar que já eram mulheres. Ontem, ao almoço, na praia, dei ao lado de um duo nessa situação. Bebiam água e comiam esparguete com gambas. No fim, depois de terem acabado de comer, uma delas pediu ao empregado uma rodela de limão, cortada ao meio. Quando chegou o pratinho com as duas metades, levou uma à boca, virou-se para a amiga e perguntou: «achas que é só chupar ou é para trincar?».
POR FALAR EM AEROPORTOS
Estou de férias, o que quer dizer que vou folheando o que raramente tenho tempo para ver durante o ano. Ontem, na praia, peguei na mais recente edição portuguesa da «National Geographic», a de Julho. Fiquei impressionado com as boas fotografias de Alexandre Vaz nos bastidores do Aeroporto de Lisboa. Ainda bem que se conseguem publicar reportagens destas numa revista feita em Portugal - onde a fotografia tem andando tão asséptica que chateia.
SÉCULO XIX
Outro dia estive no Ministério das Obras públicas e dei, numa sala de espera, com um móvel extraordinário: um pequeno arquivador, a meio caminho entre uma cómoda e um camiseiro, feito em meados do século XIX e que se destinava a guardar os processos em trânsito no Gabinete do Ministro. Feito de madeira sólida, trabalhada, mas sem demasiados floreados, o móvel tinha oito gavetas, todas aparentemente iguais em tamanho. Por cima de cada uma delas, a respectiva legenda, assim dispostas, de cima para baixo: DGEMN, Hidráulicas, J A Estradas, Urbanização, Quartéis, Hospitais, Cadeias, e, a última, Orçamentos e Diversos. Genial, não é? Simples, arrumado, cada coisa em seu sítio, os quartéis e as cadeias a terem tanta importância como os Hospitais, as estradas a par das hidráulicas, os aeroportos ainda estavam longe. Se fosse hoje nem um ocntentor chegava para a papelada.

July 20, 2003

VONTADE
estou aqui porque quero. Volto aqui porque me apetece. Há uma liberdade própria nos blogs: a de fazermos e dizermos mesmo o que queremos. Obrigado Bomba Inteligente por mo lembrares.

MAR
Cada vez que mergulho tenho vontade de ti. No mar.
FAZER SEDE
Todos os anos, pelo Verão, há uma campanha publicitária que faz sede. Este ano é a da Martini, que vai ainda mais longe no reposicionamento da marca que qualquer das anteriores (boas) tentativas. Que eu saiba foi feita para TV, Net e imprensa. Hoje, na revista do «Público» pude vê-la de seguida. É uma narrativa, mais uma vez, com intriga, suspense, provocante, sugestiva. A qualidade da produção fotográfica é fantástica, o casting e o styling da protagonista feminina são exemplares, a imagem de Beverly Hills na cena da projecção íntima é absolutamente inesquecível. Não sei porquê, mas apetece-me um Martini Bianco.
PRAZO DE VALIDADE
Ainda a propósito do livro «O Segredo de Joe Gould», de Joseph Mitchell, Nelson de Matos enviou-me um mail que aborda uma questão que muitas vezes me passa pela cabeça: infelizmente os livros, mas também os discos ou os filmes, têm prazo de validade. De certa forma, como diz NM, são como os iogurtes:
Há dois anos, quando o publiquei, pensei que estava a fazer mais um livro para o armazém. Quem é que entre nós conhecia o Mitchell? Quem saberia que, além de um grande repórter, ele era também um grande escritor? - porque um grande escritor não é apenas aquele que escreve romances.
Pois o livro ultrapassou os 10.000 exemplares de venda, julgo que vai para aí na 4ª edição...
Não teve criticas, mas teve leitores. Fiquei feliz, como imagina. Afinal Portugal tem mais leitores atentos do que às vezes se julga, mesmo quando os jornalistas literários não os ajudam com informações.
Espero que encontre o livro com facilidade - repito. Isto porque os livros, hoje, são como os yogurtes, têm um prazo de validade para a sua permanência nas livrarias. E este já tem 2 anos de vida...
A INDÚSTRIA
Um dos problemas estruturais que temos é a dificuldade em manter a qualidade quando se passa à fase industrial. A coisa aplica-se mesmo aos restaurantes. Hoje fui à Meixolhoeira Grande jantar ao Vilas. Experimentei a Via do Infante nova (porque demorou 10 anos a acabar?) e cheguei lá num instante. Essa foi a parte muito boa. A canja de conquilhas e o polvo assado no forno estavam bons. O resto estava médio. A casa estava cheia, o vinho branco era razoável, o vinho tinto intragável. A aguardente (que é feito da velha medronheira?) era rasca. Os bolinhos de alfarroba eram bons, mas tinham açucar a mais. A certa altura começaram e entrar artistas de televisão, género boys band , big brother e operação triunfo. Não havia necessidade. O vilas era bem melhor dantes. O problema não é ter mais clientes, nem ser mais popular - é não saber lidar com isso, é não manter a qualidade e a tradição apesar de servir em série. E ainda nem estamos em Agosto - como será na enchente? Nem quero pensar...
A ROSA

Não conheço a Eva Ruivo. Gostava de a conhecer. Querem saber porquê?
Nasceu em Lisboa, em 1963. Publicou um livro, em 1994, chamado «Rosa de Jericó»
Reparem:

«Perdoa, não é a falta do dinheiro
essa extravagância, nem o apetite
inconsolável de azul, voraz, sim,
gulosa do teu sexo quando a tensão
mo permite rasgo de mim
a pele o nervo a gruta os versos.

Anoto as árvores que caem, obsessiva,
debaixo do rodado de automóveis
dei-te tudo, possessiva, e fiquei
sem folhas, mas ri, atapetando
a traça dorida de teus passos
mordidos pela época e pelo trânsito.

*

Confesso: às vezes somente
a voz da tua pele apela
às verdades dormentes
ou opressas debaixo
da máquina do pensamento,
mas eu não te deixo.

Confesso: qualquer vestido
modesto de elementar singeleza
sublinhará a face sem adereços
da tua infanta, a silhueta
escondida será uma adivinha,
minha aura velada de leveza.

Confesso: nesta hora ébria
de contigo regressar à perdida
infância que resguarda
a inocência da desconfiança...
faz-me uma festa, fala comigo:
saudades eu tenho, de chorar.»

Roubei o poema do blog do Rui

July 19, 2003

É BOM ASSIM
Gosto das coisas que acabam em bem. Gosto muito dos meus amigos que me dão a alegria de viver a diferença. Por isso mesmo gostei de ver que o «DNA», depois de iniciada a polémica blogs/imprensa, publica agora a página «Bloguices», com um roteiro varíável da blogosfera, espécie de guia de entrada a este universo, que o excerto abaixo extraído do Aviz tão bem relata.
E já que estamos no «DNA», nesta edição recomenda-se vivamente a entrevista que Anabela Mota Ribeiro fez ao publicitário e agitador (é sempre isto que ele, sobretudo, me pareceu) Pedro Bidarra.
A SABEDORIA DE AVIZ
«Há nos blogs uma fragilidade muito evidente: são coisas que se escrevem porque sim, porque apetece naquele momento, porque nos lembramos, porque alguém falou disso, porque a ventania vem do lado do mar, porque o pó se levantou no meio do deserto em frases curtas, em textos longos, ou porque começou a chover no domingo. Essa fragilidade é um bem porque podemos discutir com ela — ou comover-nos. Ah, mas claro que a comoção é um perigo, tal como a pieguice, a lamechice, o horror aos outros, sim, claro que é. Mas pior do que isso vão ser os blogs dos deputados quando o parlamento publicar o livro de estilo (será como o código de conduta do Expresso?). ». Estas sábias palavras vêm da planície, de
Aviz e merecem ser lidas e relidas. Obrigado Francisco.
INCRÍVEL 3
Em qualquer jornal que comece a ler dou com o romance policial do Verão: a troca de piropos entre Pinto da Costa e a sua ex-mulher, Filomena. O caso foi iniciado no «Expresso» da mesma semana em que publicou o já célebre «Código de Conduta», mas agora percorre alegremente toda a imprensa. Não haverá mais nada do que relatar os insultos e agressões do dirigente portista?
INCRÍVEL 2
O «Expresso» de hoje publica o boletim de férias da classe política, nas páginas 14 e 15, sob o título «Férias de tanga». É preciso ler para acreditar como a coscuvlhice serve para encher duas páginas.
INCRÍVEL 1
Estou sentado no terraço a folhear jornais. Por ser o primeiro dia de férias trouxe na molhada de papel o «Semanário». Já nem sabia que existia. Qualquer semelhança entre um jornal e aquela publicação é pura coincidência. Na capa há desde recados a campanhas, passando por especulações e suposições - que lá foram sendo impressas. Nem percebo quel o sentido disto: só deve ser mesmo lido nos gabinetes de ministérios e direcções-gerais e deve haver quem pense que é boa maneira de fazer chegar recados a alguém conseguir publicar alguma coisa no jornal. Já tinha reparado, desde há uns anos, que há muitos políticos (desde que estejam em posição de serem considerados «boas fontes») que usam esse método: descaem-se com uma afirmação, na altura apenas um desejo ou uma intenção, para que alguém a publique como verídica e se consiga, eventualmente, que o desejo se transforme em realidade porque alguém achou que já estava assim decidido. Também já reparei que alguns ministros telecomandam a governação de outros ministérios com farto recurso a este método. O maior especialista nessa prática, no entanto, não está neste Governo - estava no anterior. Aceitam-se apostas sobre o seu nome.
EU
Estou sózinho de ti.

July 18, 2003

VIVA D. QUIXOTE
O sempre atento editor Nelson de Matos, da Dom Quixote, referindo-se ao meu post sobre o livro «O Segredo de Joe Gould», por Joseph Mitchell, sublinha que ele «está publicado em Portugal há mais de 2 anos.Digo-o em protecção da edição portuguesa que não é tão "bera" quanto alguns a "pintam"». Boa. Vou já à procura. Estão a ver para que servem os blogs? Sempre se vai descobrindo mais qualquer coisa.
HOJE A ESQUINA ESTÁ NAS BANCAS
Já se sabe, sexta-feira é dia da edição impressa da ESQUINA, nas páginas do «Jornal de Negócios». Na coluna de hoje dediquei-me à polémica sobre o que estou a fazer hoje em dia: organizar uma mais próxima colaboração entre o serviço público de televisão e a sociedade.
Excertos:
«...A ideia que me agrada no conceito de abertura de um canal de televisão à sociedade é, fundamentalmente, a de viver um desafio da comunicação: conseguir novos intervenientes, novas mensagens, mais proximidade, menos exclusão. Alguns dirão que é uma utopia irrealizável. Eu acho que é um desafio possível. E acho que muita gente que se afirma contra o projecto, se tivesse sido autora da ideia, a estaria a defender com unhas e dentes. Mas isto faz parte do cinismo do costume.
...
Na minha opinião grande parte do panorama mediático português é ocupado pelos mesmos protagonistas: os mesmos políticos, os mesmos sindicalistas, os mesmos autarcas, os mesmos especialistas, os mesmos artistas, os mesmos clubes, os mesmos dirigentes. Este grupo de protagonistas, a que eu costumo chamar em jeito de brincadeira «os cromos do costume», funciona em círculo fechado com o auxílio dos próprios media. São sempre os mesmos que se comentam uns aos outros (e esta é uma das grandes limitações democráticas daquela estranha forma de jornalismo que chega a privilegiar a reacção à própria notícia), e a agenda noticiosa é dominada por eles, não tanto pela importância de facto do que fazem, mas pela relação perversa de cumplicidade que estabeleceram com os media.
...
Acontece que, há anos, ouço gente de valor e de mérito a queixar-se de que tem coisas interessantes a dizer e que não consegue ter acesso a nenhum local onde seja relevante dizê-las. Resolver esta questão do acesso, sair fora do universo dos «cromos do costume» - ou seja, ir sempre descobrindo novos cromos, é parte do que me interessa fazer – e é um dos conceitos fundadores do projecto de abertura do novo canal 2.
Um processo destes não se faz por decreto – mas a nova Lei da Televisão aprovada esta semana na Assembleia da República, apesar de mais tímida do que eu desejaria, permite começar a trabalhar nesse sentido. Um processo destes tem que ser constante: não se abre no dia 5 e fecha no dia 20, como os saldos. Não é uma excepção, é uma regra que exige ter atenção, procurar constantemente quem pode te alguma coisa interessante a dizer em prol da sociedade, quem pode ajudar. A abertura à sociedade não é uma inauguração, é um método de trabalho. Um método de trabalho que há muito anda esquecido de bastantes media.»

TU
Vens de noite, no sonho
(citação de um poema de Ana Marques Gastão que vi no poesias e prosas)
POESIA
Mão amiga enviou para a Esquina o link de um local a não perder, dedicado à poesia. Chama-se poesias e prosas. «Este site surgiu na sequência de alguns anos em canais de poesia, no IRC, a ler e a passar poetas portugueses e de outras nacionalidades. Frequentemente nos pediam para darmos páginas de poetas ou determinadospoemas. Decidimos, então, criar esta página, alargando-a aos poetas do IRC que
a isso estivessem dispostos e a escritores e outras formas de expressão, como pintura e fotografia.
O nome escolhido foi o do canal do IRC onde mais passam estes poemas, #poesias_e_prosas, embora também surjam no #poesia» - referem os organizadores da página.
A PRIMEIRA SONDAGEM NO IRAQUE
A edição desta semana do Spectator dedica a capa à primeira sondagem de opinião feita no Iraque depois da guerra. Intitulado «The Voice Of Baghdad», o artigo de Peter Kellner analisa a primeira sondagem sistemática feira no Iraque nos últimos meses, e apresenta uma população cheia de ansiedade, mas também convencida de que a guerra tornou o seu futuro mais risonho. Dois em cada três entrevistados confessam que Baghdad está mais insegura, mas apenas um em oito deseja que os soldados norte americanos e ingleses deixem já o país. A guerra foi considerada justa por 50% dos entrevistados e errada por apenas 27%. Na edição pode ainda ler-se o relato das dificuldades de fazer uma sondagem em circunstâncias de pós-guerra, como acontece agora no Iraque e contam-se alguns episódios interessantes de todo o processo.


A CASA BRANCA
Um excelente artigo de Walter Isaacson na «New Yorker», chamado Fighting Words analisa dois livros recentes que apresentam perspectivas diferentes sobre o que era a vida na Casa Branca com Bill Clinton. Um é o livro de memórias da sua mulher Hillary , «Living History» e o outro foi escrito por um colaborador próximo de Clinton, Sidney Blumenthal , e chama-se «The Clinton Wars». Blumenthal foi durante anos colaborador do «New Republic» e do «New Yorker» e depois trabalhou como assessor de Clinton durante alguns anos. Uma das coisas curiosas do artigo é um breve balanço do que têm sido os livros publicados sobre o exercício de mandatos por Presidentes norte-americanos, escritos por quem de perto conviveu com ele o exercício do poder. Claro que se fica logo a pensar porque será que (quase) nada disto se passa em Portugal. As memórias do Dr. Alfredo Barroso haviam de ser bem curiosas...

FRIENDSTERS
O novo grande êxito da Internet chama-se «Friendsters» e é um programa que facilita a descoberta de novos amigos, a criação de redes de ligações com os mesmos interesses. Lançado em Março, o programa deve atingir o milhão de aderentes dentro de dias e está a crescer ao ritmo de 20% por semana. A sua utilização está a ser um dos fenómenos mais comentados dos últimos meses. Veja o que a Wired escreveu sobre o assunto.

July 17, 2003

ANÁLISE DE IMPRENSA
Não conheço trabalho tão exaustivo e com o qual concorde tanto, em matéria de análise da imprensa que temos, como o que vem no guerra e pas. Não sei quem o assina, mas sabe do que fala. É certeiro na apreciação do «Correio da Manhã», de facto o melhor jornal português (outro dia defendi isto numa reunião e toda a gente ficou a olhar, mas todos reconheceram que não o têm lido), nos problemas de posicionamento do DN, na apreciação do «Expresso», na descrição da «Visão», até na história do «Independente». Há-de ser alguém que viveu bem por perto alguns destes processos, para falar como fala, com acerto, da «jornalistada». Que não lhe doam as mãozinhas e que continue assim por muito e longo tempo.
TU
É por ti que escrevo. Para prolongar os nossos encontros, na esquina do rio.
O DIA ANTES
Não sei se isto vos acontece, mas o dia antes de ir de férias é sempre uma balbúrdia. Tenho a ideia de que as pessoas se esquecem deliberadamente de que vamos de férias e começam a marcar reuniões exactamente para esse dia - e com um bocado de sorte para os dias seguintes, para depois rematarem com um: «pois é, estás de férias, então isto tem que esperar».
A partida para férias é sempre um bocado caótica, de tal forma que já tive alturas em que pensava que era mais cansativo ir de férias do que ficar. Como nunca consigo desligar, de qualquer maneira, hoje em dia vou mais ou menos sossegado e tenho a rotina de ver e ouvir mensagens no telefone uma vez por dia, de espreitar o mail da mesma maneira. E este ano vou ter o passatempo acrescido de ir colocando nesta ESQUINA o que me fôr passando pela cabeça. Ao contrário do que algumas pessoas pensam isto não me causa stress, alivia-me até ir sabendo que está tudo a andar.
Desde que há uns anos deixei o jornalismo como actividade principal, percebi que o facto de ter mantido colunas de opinião me obrigava a um esforço de auto disciplina para me manter informado e, sobretudo, para pensar sobre o que me rodeia. Muitas vezes percebi que esta atenção tinha efeitos benéficos no meu trabalho, quer porque no decurso do que lia descobria informações úteis, quer porque no meio dos pensamentos ía também encontrando resposta e ligações para outros pensamentos.
Com o blog, e esta opção de me concentrar sobretudo nas novas formas de comunicação, passa-se o mesmo: tenho descoberto novos sites, tenho tido acesso a mais informação e, de uma forma geral, é isso que tenho tentado partilhar.

A PARTILHA

Existe um factor nos blogs que assume uma dimensão muito afectiva: a primeira esfera de acção dos blogs é a partilha. Há uma espécie de comportamento de confraria, de proximidade para com quem nos lê, mesmo que não os conheçamos directamente, que é muito diferente de qualquer outro media. Ainda por cima acabei por reparar, quer pelos mails, quer pelas indicações de proveniência das ligações à ESQUINA, que havia mais pessoas que conhecia que, não só tinham blogs curiosos, como me liam com regularidade.
Sendo público, o blog gera uma intimidade especial, acrescida pelas ferramentas que nos permitem ir percebendo quem nos lê, quando nos lê, como nos lê. Como todos os fenómenos do género, um blog alastra do círculos concêntricos repetidos, que se vão adicionando. Uma citação de um link num outro blog gera logo movimento. O curioso é que no blog se vê isto de forma quase automática.
Ontem, por exemplo, descobri um citação que não era habitual e fui ter ao Folgo Em Saber . Estou agora curioso por identificar a assinatura com a pessoa, mas lá chegarei. Estas descobertas fazem parte da alegria diária de um bloguista. E mais descobertas destas hão-de certamente acontecer.
YAHOO COM MAIS NOTÍCIAS
A Yahoo passou a incluir na sua área noticiosa material do Washington Post. Vem tudo explicadoaqui.
A NOVA IMPRENSA REGIONAL
Começam a paracer os primeiros sinais de uma nova forma de imprensa regional, baseada na internet e com um grau de proximidade muito maior em relação às poulações. A Online Journalism Review tem um artigo interessante sobre o assunto
JORNALISMO NA NET: OS CONSELHOS DA BBC
Os media podem variar, mas os princípios básicos devem manter-se. Ora leiam lá as linhas seguintes e contem se acham que é isto que se passa na maioria das redacções portuguesas: «Mike Smartt, Editor-in-Chief of BBC News Online reminded journalists that they can “take old ideas and give them a new coat of paint.” There are many practices from traditional media that are easily and effectively adopted for online. Smartt encouraged journalists to stick to the basics of good editorial thinking, writing and editing, and he said that online newsrooms could be structured along the lines of traditional media. He encouraged editors to let ideas flow up from the ranks of journalists who are closest to day-to-day content, and said top editors should spend their time on the more strategic questions of technology and how content can be published efficiently. Smartt outlined the BBC's three-stage production process that includes a ticker, four-line brief and full story, and their long-range vision of publishing to multiple platforms from one content publishing system (CPS). In the future, Smartt hopes that BBC interactive journalists will be able to turn out stories for multiple platforms by entering text just once into the system. The BBC Interactive currently publishes to multiple platforms, including CEFAX, an analog television-based information service, the web and interactive television. ». A declaração foi proferida nas conferências de Vilanova, actualmente em curso, e qe podem ser seguidas aqui

July 16, 2003

GIGANTES
Um dos meus grupos preferidos chama-se They Might Be Giants. É um duo, acústico, e o que toca é a força das palavras que cantam, a ironia desenfreada das suas canções, o olhar cáustico que lançam sobre o mundo. Pois bem, há um documentário feito sobre eles, que descobri, por acaso, na página da apple . Tem uma bela descrição do grupo, links para os sites relacionados, a história de como foi feito o documentário “Gigantic: A Tale of Two Johns” .
INSÓNIA
Já não me consigo deitar cedo - quer dizer, quando me deito cedo, acordo cedíssimo. Estou de pestana aberta desde as cinco e meia da manhã, com ar descansado, irritado porque as edições dos jornais ainda não estão na net a esta hora. Zapo pelos canais e não encontro nada de interessante - esta é aliás a hora das televendas: haverá assim tanta gente doida para fazer compras compulsivas de colchões de encher e aparelhos para os abdominais a esta hora?
Invevitavelmente, depois de meia hora às voltas levanto-me. Venho para o computador ler blogs e reparo em alguns bons. Por exemplo nas certeiras palavras de Pedro Mexia no seu Dicionário do Diabo sobre as preocupações da Dra. Maria Barroso: «A dra. Maria Barroso diz que «há um grande desejo de fazer desaparecer a família Soares». Não faço ideia o que seja a «família Soares». Estou convencido de que vivemos em Democracia e em República, e que por isso não existe a «família Soares», mas o dr. Mário Soares, a dra. Maria Barroso e o dr. João Soares. E não vejo quem os queira «fazer desaparecer». O que percebo é que a dr. Maria Barroso quer exigir uma intocabilidade para si e para os seus»
. Estou mais descansado: a Bomba Inteligente já se deixou de tristezas e diz uma coisa muito acertada:«A televisão é um negócio em que não há moral. Não serve para educar, nem para ensinar nada a ninguém. Não serve para orientar e nem mesmo para informar. Trata-se de um negócio cujo objectivo é entreter. E o povo português diverte-se com a loucura e aplaude-a. Afinal de contas, quem não tem moral: a televisão ou os espectadores? ». É uma resposta à mais recente polémica da blogosfera, sobre a presença no último Herman de um jovem com problemas mentais. Pacheco Pereira foi dos primeiros a falar do assunto e hoje escreve «Ficava bem a Herman no próximo programa começar por calar o público, e dirigir-se aos espectadores dizendo uma coisa tão simples como isto : “na semana anterior ultrapassamos neste programa um limite que deve ser inultrapassável e tratamos mal um amigo nosso que tem problemas. Pedimos-lhe desculpas e pedimos desculpa ao público. Não se torna a repetir. " E depois segue o programa.» no seu
Abrupto. E para resumir a situação, eis o que se pode ler em O Gato Fedorento :«A blogosfera esta em polvorosa pela ida do Nando (o conhecido Emplastro) ao Herman Sic. Maldade, dizem. Sinceramente, acho que maldade maior é esta historia de lhe quererem pagar o arranjo dos dentes. O que se seguirá? Ensinar-lhe boas maneiras, para ele não estar sempre a ouvir o que dizem as pessoas que falam para a câmara? E depois? Deixa de ser o Emplastro e passa a ser só um qualquer? Já assisti a esta história de subida aos píncaros da fama e queda no abismo do esquecimento com o Zé Maria do Big Brother. Não é bonito. » Pelo menos para uma coisa serviu a insónia: já tratei do meu tamagoshi, que é como quem diz, já bloguei.
TV NET
Bem sei que a nova Lei da Televisão acabou de ser aprovada, mas pelo que acabei de ler na «Wired» temo que já tenha algumas desactualizações. O artigo da «Wired» fala sobre os novos programas que começam a aparecer em estações de TV que só existem na net, nas potencialidades da banda larga e do papel de proximidade e de diversidade que estas novas formas de fazer, transmitir e consumir televisão podem trazer. Com links a alguns dos casos apontados, vale a pena ler este artigo.
A CRISE NO NEW YORK TIMES
A «Columbia Journalism Review» publica um interessante artigo sobre alguns aspectos pouco conhecidos na redacção do «New York Times» e que acabou por levar à demissão do todo-poderoso Howell Raines. Vale a pena ler aqui.
RATO DE LIVRARIA
Neste tempo de cepticismos sobre o papel e a prática dos jornalistas sabe bem ler a história da carreira de um homem que se entregou de alma e coração a escrever para a imprensa. Chama-se Joseph Mitchell e vem contada no site brasileiro No Mínimo, a propósito da edição brasileira do seu livro «O Segredo de Joe Gould». Mitchell escreveu para a «New Yorker» durante décadas e criou um pessoalíssimo estilo de descrever a cidade que o fascinava.

July 15, 2003

ACTIVISMO ELECTRÓNICO
«A próxima eleição presidencial norte-americana vai ser o primeiro grande acto eleitoral a ser blogado em tempo real, quer pelos próprios políticos quer pelos observadores. Mas em muitas outras maneiras os blogs começam a ter repercussão na política americana, desde demissões recentes até à Guerra no Iraque» - quem o diz é Steven Clift, um norte-americano que se dedica a estudar a importância da acção política através de meios electrónicos. Espreitem as notas que ele vai deixando na sua newsletter electrónica Do Wire , Democracies Online Newswire.
PARA BONS LEITORES
Gosto cada vez mais do Aviz de Francisco José Viegas. Aviz com z porque lhe apetece, blogs recentes a escanchar na poluição politicamente correcta, nos desfiles de moda da treta, nos jornalistas que emprenham por ouvido.
O BEIJO
Hoje às 19h00 em Coimbra, Jean Seberg beija Jean Paul Belmondo. Há-de ser no filme «A Bout De Souffle» de Godard, o princípio do recomeço do cinema para uns, o descarrilar do cinema europeu para outros, a génese da globalização de Holllywood para outros ainda. O que fez a nouvelle vague pelo cinema europeu para além de ir ostracizando os públicos que antes se deliciavam e se viraram para as fitas americanas que, em vez de explorarem problemas, contavam aventuras? A discussão é longa, mas é uma boa discussão. Muito melhor é Jean Seberg, no auge da sua carreira, linda como nunca. No cartaz do filme, que se pode ver na mais bonita galeria da blogosfera ABsurdo., ela concentra-se no beijo que deposita na cara de Belmondo enquanto ele faz ar de malandro (quase) indiferente, um género que adoptou para toda a carreira. Mais abaixo há outras imagens, da menina que andava a vender o «Intenational Herald Tribune» pelas ruas de Paris. Um dia destes vou à procura de um poster deste cartaz...
QUE VIVA COMPAY! SALVE BENNY CARTER!
Com um puro e um rum se evoca a vida do músico cubano Compay Segundo, escreve Paulo Roberto Pires em No Mínimo. No mesmo sítio Flávio Pinheiro evoca o saxofonista Benny Carter. Ambos morreram aos 95 anos de idade, vida cheia, música muita.

July 14, 2003

GOSTOS
Gosto do teu gosto e de descobrir aquilo de que gostas. Gosto de sentir que gostas.
TUTTY HUMOR
Já aqui elogiei algumas vezes o brasileiro «No Mínimo». Chegou agora a altura de começar a semana em boa forma e com boa disposição, por isso sugiro que vão direitinhos a uma secção incrivelmente divertida do «No Mínimo» chamada Tutty Vasques. Fiquem-se lá com esta e vão descobrir as outras: «Vera Fischer ganhou uma calcinha com a imagem de Santo Expedito. Agora me digam: que diabos o padroeiro das causas impossíveis tem a ver com as calças?».
O VIGILANTE
Descobri um site, Media Research Center, que se destina a evidenciar casos de noticiários feitos de um ponto de vista parcial, tendencioso, manipulado. Dirigido por Brent Bozell, o site tem arquivos exaustivos com exemplos do que considera serem más práticas e ainda um conjunto de posições próprias tomadas a propósito de factos que afectam os media - por exemplo, a propósito da crise no «New York Times», um comunicado do Centro recomenda que o jornal se volte a centrar nas notícias e nos factos e que se afaste do papel de porta-voz de causas esquerdistas. Numa outra área o site alimenta listas de factos que estão a ser ignorados pelos media e chama a atenção, de forma quase instantânea, para manipulações de informação que estão a ocorrer. Ora digam lá se um organismo semelhante a este em Portugal não iria ter trabalhinho à grande...

July 13, 2003

PARA TI
Tenho saudades de tudo o que ainda falta.
COISAS DE FLOR
«PARA A SEMANA É QUE É: Várias pessoas peroraram já sobre a primeira página da última edição do Expresso. O Expresso noticia as indecisões autorais de Freitas do Amaral e dedica uma caixa inteira às lamúrias da ex-mulher de Pinto da Costa. Umas páginas à frente, o Expresso publica um avassalador código de conduta que, entre outros aspectos, destaca o interesse público que, necessariamente, deve existir nas notícias deste jornal. Disto tudo, só podemos, evidentemente, tirar uma conclusão: o código de conduta do Expresso entra em vigor na próxima semana. » - mais uma brilahnte nota na
Flor de Obsessão
COISAS DO DICIONÁRIO
«FAÇAM O QUE EU DIGO, NÃO FAÇAM O QUE EU FAÇO: O Expresso publica um código de conduta? Acho óptimo, vou estudá-lo com o maior interesse. Mas na mesma edição em que entrevista a (ainda) mulher de Pinto da Costa a contar histórias exclusivamente da vida privada de ambos? Haja vergonha. » O Dicionário do Diabo está em grande forma.
QUE RAIO DE SEMANA
A «Spectator» tem uma coluna regular intitulada «Portrait Of The Week» que se revela sempre de uma leitura deliciosa. Não resisto a transcrever parte da que saíu na edição mais recente da revista: «Silvio Berlusconi, Prime Minister of Italy, annoyed the Germans by telling Martin Schulz, a German MEP: ‘Mr Schulz, there is a producer in Italy making a film on the Nazi concentration camps. I shall have to recommend you for the role of commandant. You would be perfect.’ Mr Berlusconi, who was responding to claims that he is unfit to represent the European Union during Italy’s six-month presidency, explained that he was making an ‘ironic’ joke, but Chancellor Gerhard Schröder of Germany demanded an apology. Mr Berlusconi declined to do more than express ‘regret’ that he had been misinterpreted. Mr Schröder threatened to cancel his summer holiday in Italy. Two young Chechen women killed themselves and 15 other people by detonating explosive-filled belts at a rock festival in Moscow. Laleh and Ladan Bijani, Siamese twins joined at the head, died aged 29 on the third day of an operation in Singapore to separate them. Several American soldiers and a young British journalist, Richard Wild, were killed in Iraq. Arab broadcasters played two taped messages of support, apparently from Saddam Hussein, for ‘the heroic resistance fighters’ in Iraq. The Foreign Office and the House of Commons expressed concern about Washington’s decision to put two Britons held at Guantanamo Bay — Feroz Abbasi from Croydon and Moazam Begg from Birmingham — on trial before an American military tribunal. The chief executive of Hong Kong, Tung Chee-Hwa, was forced to bow to popular pressure and delay an anti-subversion law. In South Korea, a father hurled his daughter’s computer out of a 12th-floor window, annoyed that she was surfing the Internet instead of greeting him. The computer landed on a four-year-old girl, inflicting severe facial injuries. »

ARTE ILEGAL

Na Galeria dos Artistas do Museu de Arte Moderna de São Francisco abriu uma exposição intitulada «Illegal Art» que exibe uma série de trabalhos de artistas que desafiam as restrições actuais de utilização de marcas protegidas e das leis que regulamentam o copyright. A Wired tem uma reportagem sobre o assunto que vale a pena ler, com vários links (inclusive para a própria exposição) que vale a pena ver. Um dos organizadores classifica a mostra como um acto de desobediência civil. A organização coube à revista «Freedom Of Expression» e vem colocar de novo em cima da mesa os limites de utilização de materiais é imagens do domínio publico na criatividade artística - algo que tem também muito a ver com o que aparece em alguns (bons) blogs.

TAMAGOSHI
Agora, cada vez que me sento pela manhã frente ao computador e abro o programa do Blogger, sinto-me como se estivesse a alimentar o meu Tamagoshi. Começo a descobrir que desenvolvo uma relação pessoal de afectividade com o meu blog (e com alguns blogs de outros, até de pessoas que não conheço). Dou por mim a guardar durante o dia ideias para o blog, a tomar nota de coisas (já tenho um caderninho para o blog). Qunado viajo na blogosfera surpreendo-me com o que encontro, com as coisas que os bloggers escolhem para as suas páginas, com o cuidado plástico que muitos colocam, com o que já descobri nos últimos tempos graça ao blog - desde o reencontro de velhos amigos, até à descoberta de novos fotógrafos, passando por boas polémicas, muito humor e bastante sentimento. O dia já não é bem o mesmo quando não alimento logo o meu tamagoshi.

July 12, 2003

MAIS UMA IMAGEM
Na capa da edição on line da New Yorker está uma fotografia de Arnold Schwarzenegger feita por Richard Avedon. O pretexto é o artigo (imperdível) que vem lá dentro sobre o Terminator 3:
When the T-X finds a bloody dressing that has fallen from the wounded John Connor, she touches it with her tongue, analyzes the DNA in a second, and lets out a momentary “Aaah” of what, if she were a practicing vampire, one would have to call pleasure. As for the scatterings of visual wit, I would not choose to be the person who tells Arnold Schwarzenegger that the fine details of Terminator style—the leathers, the bike, the boots, and, yes, a pair of shades dusted with spangles—are now within an inch of a gay fetish.
A Wired publica on line um belo artigo assinado por Katie Dean : os voluntários de ONG's de carácter humanitário, em missões no estrangeiro, utilizam os seus blogs como diários de uma experiência que sobretudo constituem crónicas sobre o que é a vida das pessoas em sociedades despadaçadas por conflitos. Na verdade, observa a autora, esses blogs destinam-se a alertar as sociedades ocidentais, na esperança que elas reajam e prestem auxílio. O artigo contém bons links com excelentes exemplos do que Katie Dean diz.

JORNAIS DE SÁBADO 2
E pronto, aí está o diálogo entre um jornal e um blog. O meu velho amigo Pedro Rolo Duarte escreve-me hoje, no seu diário publicado no DNA. Desafia-me para um almoço no Magnolia Café. A ideia parece-me excelente, já estou a salivar com a imagem da salada de rosbife - ainda por cima acompanhada por uma boa conversa. Combinado Pedro, falamos ao telefone para acertar as coisas.
JORNAIS DE SÁBADO 1
A coisa que mais me impressiona no «Expresso» é a ligeireza com que publica notícias. Fez do boato uma arma poderosa e incorporou-a no seu Livro de Estilo. Esta semana tocou-me à porta: mesmo depois de ter sido feito um desmentido formal na quinta-feira sobre rumores que circulavam a propósito do fim do programa «Bombordo», da actual RTP 2, eis que abro o «Expresso» e lá vejo, na última página, o dado adquirido: o «Bombordo» vai acabar. Aproveito o meu blog para esclarecer: o «Bombordo», como outros programas que existem na RTP 2, vai mudar o método de produção, o processo de produção. Mas o «Bombordo» não vai acabar. Pelo contrário, o «Bombordo» - e a temática do ambiente, da vida marítima e dos oceanos - vai ser melhor tratada na futura grelha que tem sido na actual.

July 11, 2003

FOTOGRAFIAS
Pedro Guimarães é um dos novos fotógrafos portugueses cujo trabalho vale a pena seguir. Foi um outro devoto da fotografia, que comigo tem feito causas comuns, o João Bafo, que me chamou a atenção para o trabalho de Pedro Guimarães. Ganhou o Prémio FNAC e o seu portfolio pode ser visto aqui .
8 PESSOAS SIMPÁTICAS
Apresentam-se assim: têm experiência, são escritores, estão no desemprego há mais de um ano, começam a ficar aflitos e têm muito que contar. Fizeram um site, a que chamam «a nova realidade». Vale a pena ver descobrir estas histórias, acompanhar, como eles dizem as suas aventuras no 8 Good People .
FAST FAST
Dois dias cheios, de reuniões, opiniões, muitas discussões. A de ontem - uma mesa redonda no Convento da Arrábida sobre «Televisão - Estado, mercado e sociedade civil» correu bem: os cépticos foram cépticos, os especuladores foram especuladores e os atentos foram muito atentos. Assim até dá gosto, ainda para mais com a Arrábida por pano de fundo - é mesmo dos sítios mais bonitos de Portugal.

HOJE A ESQUINA ESTÁ IMPRESSA...
Como hoje é sexta a Esquina tem a versão impressa no «Jornal de Negócios», com as habituais Recomendações:
Para hoje: Jazz com o Quinteto de Ralph Peterson no Parque de Palmela, Cascais, 21h30.
Para amanhã: Tito Andrónico, de Shakespeare, numa encenação de Luis Miguel Cintra, Teatro Nacional D. Maria II, 21h00.
Para depois de amanhã: Não perca a exposição sobre a obra de arquitectura e design Mies Van Der Rohe, exposta no Centro Cultural de Belém até dia 27.
Para sempre: Restaurante «A Galeria Gemelli», Rua de S.Bento 334, telefone 213882016.
CONDUTAS...
Parece que o «Expresso» desta semana vai publicar um «Código de Conduta». A dúvida está em saber como regulamentam a publicação de fretes e em conhecer o livro de estilo da publicação de escutas telefónicas.

July 10, 2003

Ooops...
Dia difícil para pensar. Apetecia-me ficar a olhar para um ecrã de televisão que passasse um grande plano de um peixe a nadar num aquário.
O CÉU
Ele há dias em que não se vislumbra o azul do céu e o mundo é dominado por quatro paredes.

July 09, 2003

QUEM DISSE CARAMBA?
Melhor citação sobre o tema:
«Bolas

O presidente disse "caramba"?

Dassssse!»
In o incontornável jaquinzinhos
LAVAR A VISTA
Quando precisarem de aliviar o pensamento e tonificar a vista dirijam-se ao ABsurdo e deliciem-se com a magnífica galeria de imagens que lá está, de fotografias a cartazes de cinema.
NOTÍCIAS ON LINE
Ora espreitem lá isto AQUI para permanecerem informados acerca das últimas notícias sobre a influência da net no jornalismo e os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos e de edição.
DUPLA FILA
A coisa me me transtorna mais no meio do caos do trânsito lisboeta é a mania de parar em segunda fila, entupindo o trânsito. Para-se em segunda fila para ir tomar um café, para-se em segunda fila para ir comprar um jornal, para-se em segunda fila para ir buscar uma coisa à loja: outro dia um amigo meu garantiu-me ser impensável abrir qualquer loja cujo público fundamental seja feminino num local onde não se possa parar em segunda fila - é que, as mulheres, dizia ele, nunca vão aos parques de estacionamento e gostam sempre de entrar e sair a correr dos sítios. Na vida já tinha notado isso, reperei depois que também em relação ao trânsito esta característica feminina se mantém imutável.
Para cúmulo hoje de manhã até vi um carro dá polícia parado em segunda fila, enquanto o guarda tinha ido á tabacaria - talvez jogar no totoloto, digo eu.
POR CONTA
Esta coisas de haver quem não queira pagar impostos irrita-me bastante. É claro que é mais simpático não ter que se pagar - mas nesse caso não se pode esperar que o Estado faça o que quer que seja - e sobretudo não se pode repensar toda a fiscalidade se não se encontrar forma de levar a pagar os que sistematicamente não pagam. A mim vão-me ao ordenado todos os meses e eu não refilo: porque é que quem trabalha por conta própria não há-de ter que pagar, ainda por cima uma média de 20 contos por mês? Demagogia pura e simples é o que os taxistas andam a fazer, com o elucidativo apoio de todos os que andam por trás à espreita - são no fundo os mesmos de sempre.

July 08, 2003

O QUÊ?
Será que os blogs são os tamagoshis da escrita?
verifiquem isto
A IMAGEM
Só para ver a histórica fotografia que Richard Avedon fez há uns anos de Katherine Hepburn vale a pena ir à homepage da New Yorker E já que lá está leia a belíssima evocação da carreira da actriz escrita por Claudia Roth Pierpont, assim como a revisitação dos filmes que marcaram a sua carreira.
RADAR & TERTÚLIA
Qual pode ser a semelhança entre o radar e um blog? Ambos são instrumentos de detecção: o radar é-o por função, o blog torna-se num por vocação.
Passo a explicar: Nos últimos dias tenho andado a espiolhar uma série de blogs que aparecem no fenómeno cascata (o das citações mútuas sucessivas) e rapidamente se conclui que em muitos deles é fácil detectar o estado de espírito dos respectivos autores. As mais das vezes reflectem-se paixões, descobertas, mas também desilusões. Os blogs, por serem tão confessionais, são o espelho perfeito de quem os escreve e mostram, quando são verdadeiramente bons, como estão os bloggers quando os escrevem. Um daqueles que mais me tem captado a atenção é o deslizar no sonho, onde se vai percebendo a matriz das principais preocupações, a recorrência de assuntos, mas muito principalmente a utilização de citações para fazer uma transferência de estados de espírito. Outras vezes, frases súbitas, irrompem com força para mostrar a dor: Primeiro o sentimento é de indignação que se transforma em raiva, depois permanece uma dolorosa decepção pelo leviano julgamento ou comentários impiedosos dos outros.

Uma das coisas curiosas nos blogs e nos bloggers é a relação de extrema cumplicidade que se estabelece entre o exibicionismo e o voyeurismo. Cada blogger é as duas coisas em permanência, como bem mostra a bomba inteligente. Um blogger alimenta sempre a esperança de ser lido, por mais intimista e confessional que seja o seu blog (por isso o expõe num espaço público), e gosta de partir à descoberta de outros seus semelhantes e, sobretudo, de quem o lê - e a tarefa é facilitada pelos motores de busca de utilizadores.
Um blog é ao mesmo tempo um grito e um posto de observação, é uma espécie de castelo medieval de refúgio para trovadores - deve ser por isso que existem tantas referências poéticas.
Esta partilha de sentimentos constante que os blogs proporcionam é um dos maiores factores de atracção - e o que tem permitido que os blogs sejam mais que um grupo solto e desconexo de identidades e se tornem em comunidades e em meio de comunicação entre elas. Na verdade, o blog é o novo espaço da tertúlia, o novo ponto de encontro - ao contrário dos chats e dos sms, os blogs são conteúdos que ficam, que permanecem, que são infinitamente partilháveis. É desta partilha que nascem todas as cumplicidades. Será assim?

July 07, 2003

O QUE É A OBJECTIVIDADE?
Muito oportuno o artigo de capa da edição mais recente da Columbia Journalism Review, sobre o que é a objectividade Re-thinking Objectivity. Partindo dos acontecimentos à volta da Guerra do Iraque e da cobertura que foi feita, o autor do artigo, Brent Cunningham, analisa seriamente uma das mais cruciais questões do jornalismo contemporâneo e que bem aguda se tem vindo a tornar em Portugal nos últimos tempos - de facto proliferam as notícias escritas a partir de uma posição pré-estabelecida, na realidade tendenciosas, o que muitas vezes distorce a realidade dos factos e a importância relativa das coisas - a posição pró-Bloco de Esquerda de numero considerável de jornalistas teve uma influência assinalável no invulgarmente rápido ganho de notoriedade desta organização política antes das últimas eleições. Uma pequena citação para abrir o apetite para o texto que está lo link acima: «The test, though, should not be whether it is tendentious, but whether it is true. There are those who will argue that if you start fooling around with the standard of objectivity you open the door to partisanship. But mainstream reporters by and large are not ideological warriors. They are imperfect people performing a difficult job that is crucial to society. Letting them write what they know and encouraging them to dig toward some deeper understanding of things is not biased, it is essential. Reporters should feel free, as Daniel Bice says, to "call it as we see it, but not be committed to one side or the other." Their professional values make them, Herbert Gans argues, akin to reformers, and they should embrace that aspect of what they do, not hide it for fear of being slapped with a bias charge. And when actual bias seeps in - as it surely will - the self-policing in the newsroom must be vigorous. Witness the memo John Carroll, editor of the Los Angeles Times, wrote last month to his staff after a front-page piece on a new Texas abortion law veered left of center: "I want everyone to understand how serious I am about purging all political bias from our coverage." ».

RÁDIO À MEDIDA
Um dos problemas das estações de rádio hoje em dia é o da formatação das play-lists, que repetem vezes sem conta as mesmas canções e que dificultam a descoberta de novos valores novas produções. Uma rádio de internet londrina, last.fm, parece ter resolvido o problema, criando um filtro especial que permite adequar a emissão aos gostos de cada ouvinte. A história vem contada na Wired e pode ligar-se à rádio clicando no seu nome last.fm
A VOZ DE McBEAL
Acabei de saber que Barry White, o cantor negro da voz aveludada e das canções românticas, morreu sexta-feira passada com 58 anos. Com uma carreira construída ao longo de três décadas, White foi redescoberto há poucos anos por novos públicos quando algumas das suas canções foram usadas como banda sonora da série de televisão «Ally McBeal». Em 2000 ganhou um Grammy pela interpretação do tema «Staying Power». Com a sua voz forte de barítono e canções hiper-românticas, White serviu ambém de banda sonora a muitas paixões que se desenvolveram ao som de temas como "You're the First, the Last, My Everything" e "Can't Get Enough of Your Love, Babe." Foi ainda um dos precursores do fenómeno disco-sound com o seu «Love Theme», de 1973, que se tornou uma das fontes de samplagem para uma geração de rappers.

O BOLETIM DAS ESCUTAS
Opinião pessoal de velho leitor e ex-jornalista da casa: o «Expresso» está a tornar-se na folha oficial do departamento de escutas telefónicas das polícias. É uma variante do «Diário da República», género que também vai praticando intermitentemente. No editorial de sábado passado o director do boletim das escutas falava, a propósito da misteriosa e suspeita morte de um autarca de Almodôvar, do crime perfeito. Bastava olhar para as primeiras páginas de algumas das suas edições para ver como o crime perfeito existe mesmo a seu lado, levemente disfarçado de investigação jornalística, na verdade pouco mais que um amplificador de telefonemas de «fontes de confiança» feitos sexta-feira em cima da hora de fecho e que são publicados como se de verdades provadas se tratasse porque muita gente por lá acha que isso é que é bom jornalismo e ninguém está para ter muitas maçadas.
Desde há uns anos tenho um passatempo: olho para as primeiras páginas do «Expresso» e desato a tentar adivinhar quem plantou como notícias algumas das coisas que lá estão. Depois vou às colunas de opinião da casa e imagino quem andou a almoçar no com quem - tenho agora uma dúvida, depois da mudança das instalações para os subúrbios que sítio terá substituído o «Pabe» para estes encontros?

July 06, 2003

HAIKAI
Pela primeira vez desde há uma semana estive umas 12 horas sem tocar no Blog. Sem ver o que se passava. Sem espiolhar. Um blog implica uma exposição da intimidade - e às vezes não é fácil viver com isso.
Nesta semana descobri que a essência do blog é a partilha - das ideias, dos pensamentos, dos disparates - mas a partilha do que nos vai na cabeça. Muito mais que qualquer outra coisa, um blog é isto: partilha. Um blog é um jornal de parede. Escreve-se e toda a gente que passe nesta esquina pode ir lê-lo. Gosto desta ideia: o espaço de partilha que se aplica num jornal de parede.
«José Luis Borges
devia gostar de blogues», escreveu JPP no abrupto , sublinhando que há uma estranha semelhança entre o que se pode fazer num blog e um haiaki. É uma ideia que já me tinha passado pela cabeça, os blogs permitem deixar cair duas ou três palavras, sem mais. E fica tudo dito. Melhor, parece que fica tudo dito. Também nos haikai existe esta dimensão, contida, fragmentada, da partilha de nós.
A PÓLVORA ESTÁ NO ARMAZÉM...
Razão tem o abrupto:
Esfrego as mãos e mantenho a pólvora seca à espera da Causa Nossa, o blogue da Cosa Nostra Neo Socialista Independente e Intelectual. São normalmente aqueles em que dá mais gosto bater (metaforicamente claro), Nem sabem no que se vão meter. Crestas !

July 05, 2003

CAIXA DE CORREIO
ABsurdo mandou-me uma bela fotografia de Berlusconi, publicada em «O Comércio do porto» em que o novo presidente em exercício da União Europeia faz cornos como os putos nos retraos da escola. Giro. Diz ABsurdo, replicando a um blog que aqui deixei sobre Berlusconi há uns dias: partindo do princípio que percebi a sua ironia (com a qual concordo, se tiver percebido bem), envio-lhe uma fotografia publicada hoje n' O Comércio do Porto que, para mim, é mais esclarecedora que muitas palavras.

João Bafo, bom e velho amigo, mailou-me com preciosas observações:Não estou nada de acordo com o teu post crítico
sobre a brasileira que lia rilke e falava de mercedes e ferraris.Embora prefira "maseratis", uma "gaja"
que lê rilke, a falar de "bombas" deve ser interessante. Talvez também leia a The New Yorker ( belissimo
retrato do Cartier Bresson do poeta Robert Lowell publicada no penúltimo numero que recebi.


A Susana W. Paiva mandou-me o link para o seu blog a carta roubada, que vivamente recomendo. Cito dela um blog que me pareceu especialmente curioso: A fabulosa história da “Fabulosa Hot Babe” passa-se entre Boston e Memphis, à distância proporcionada pela rede.
Um homem, C, tem 43 anos, tem uma vida monótona, uma mulher monótona e não se sabe se filhos monótonos. C tem também um computador aberto à world wide web que se revela pouco ou até nada monótono pois permite-lhe descobrir, casualmente online, uma jovem de Memphis, a “Fabulous Hot Babe” que mantém com ele, dia após dia, os mais íntimos diálogos. Entre confidências e “tiny sex”, o homem da vida monótona “descobre” que a “Hot Babe” é, na verdade, um homem com 80 anos que tendo uma vida monótona, pinta a manta possível com uma notável capacidade de simulação.
O “caso” durou cerca de dois anos, mais coisa menos coisa, e as horas a que C se ligava a “Hot Babe” eram preciosas para ambos, mas não só. No lar onde “Hot Babe” passava os seus dias e onde o computador era uma das distracções para a vida monótona dos residentes, as “conversas” online com C eram também partilhadas pelo grupo de idosos, para quem aqueles momentos representavam um salto para a fantasia perdida algures entre a vida, idade e tédio. A “hora do recreio” de C, coincidia com a “hora do recreio” de “Hot Babe” e amigos. Durante algum tempo, a monotonia andou maquilhada a preceito até ao momento em que todos escorregaram no tapete da realidade e a experiência traumática produziu o seu estrondo no mundo ora vazio, ora cheio.
Tal como as marés? No início da ligação identifica-se a maré vazia e um areal extenso; durante a ligação assiste-se à maré cheia, eufórica; no final, as ondas retiram-se de novo, revelando pedras no extenso areal.

Uma coisa engraçada nos Blogas é que depois de os lermos ficamos sempre a imaginar como serão, ao vivo, as pessoas que os escrevem. Este espaço de fabtasia que os próprios blogs induzem não deixa de ser um dos lados interessantes deste pequeno prazer que obsessivamente se repete - por acaso exactamente quando nos apetece (o que é coisa rara nos prazeres).
CONFIRMOU-SE
Jacinta esteve à altura das expectativas e fez um grande recital na noite de sexta-feira no Fórum Lisboa. Acompanhada por Rodrigo Gonçalves no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo e por Bruno Pedrosa na bateria, Jacinta interpretou repertório do seu disco, baseado em blues tornados conhecidos por Bessie Smith, e explorou os territórios de Thelonius Monk com grande à vontade. Destaques da noite: a interpretação de «Round Midnight» e o encore com «Summertime». Músicos e cantora estiveram em grande forma.

July 04, 2003

E UMA VISÃO DIFERENTE
A New Yorker oferece-nos uma visão algo diferente do conceito edipiano, a proósito de Hulk e aventura-se pelo território do novo «Anjos de Charlie» de uma forma pouco meiga:«Everything in this movie goes down easily except for the presence of Demi Moore as an ex-Angel who has gone over to the dark side. Moore’s closeups reveal her usual lack of humor and what is normally called talent, along with her utter determination to prevail. This is a windup toy of a movie, but Moore’s tight-lipped concentration is a reminder of how much work goes into the illusion of frivolous inconsequence.»
A RELAÇÃO ENTRE ÉDIPO E O INCRÍVEL HULK
« Contratado para dar um pouco de razão e sensibilidade a “’Hulk”, Ang Lee só conseguiu emprestar-lhe afetação e mediocridade. Nas mãos do diretor que se notabilizou por dramas intimistas, o Incrível Hulk virou um King Kong edipiano para as massas» - quem o escreve é Ricardo Calli no sempre delicioso
no mínimo
HOJE ESTÁ IMPRESSO
A Esquina do Rio está hoje na versão impressa, no «Jornal de Negócios» Às sextas é assim: mesmo quem não bloga, passa pela Esquina. O que me agrada nesta solução (articular uma coluna de opinião semanal com um Blog) é o carácter de bloco-notas que o blog assumidamente tem, que possibilita que todos os dias partilhe temas que descubro, sensações que vivo, ideias que me vêm à cabeça. Por outro lado é curioso o exercício mental a que um blog obriga. Dantes as coisas aconteciam e, ou duravam o espaço de uma semana e ganhavam corpo suficiente para serem escritas, ou nunca apareciam. Com o blog tudo pode aparecer porque, como já disseram muitos que escreveram sobre este assunto, o critério editorial dos media tradicionais, baseado na relativização entre o espaço disponível e a importância do tema e mediado pela figura do editor, não se aplica aqui. A decisão editorial passa exclusivamente para o plano pessoal - escrevo o que é, para mim, naquele instante, relevante escrever. Publico quando quero, consigo ter uma ideia muito aproximada de como sou lido. Na generalidade dos casos procuro colocar-me como intermediário de informação: prefiro não transportar sobretudo opiniões e reflexões pessoais, opto por sugerir links, alinhar assuntos, partilhar informação. É este lado - o partilhar constante de informação de diversos níveis, que é aliás o factor mais interessante dos blogs, mecanismo que é potenciado por citações recíprocas, e que leva a uma cascata de descobertas que é em grande parte a responsável pelo carácter viciante e obsessivo que a escrita dos blogs tem e que a procura constante por novos blogs e novas actualizações alimenta.
RECOMENDAÇÕES:
Para HOJE: o jazz cantado por Jacinta no Fórum Lisboa às 22h00.
Para AMANHã: A Vanguard Jazz Orchestra no Estoril Jazz, às 21h30, no Auditório do Parque Palmela.
Para DEPOIS DE AMANHÃ: a exposição de fotografia Dia Di Bai no Colégio das Artes (Pátio da Inquisição),em Coimbra, organização Centro das Artes Visuais/Encontros de Fotografia, ou seja o grande Albano da Silva Pereira.
Para SEMPRE: Speakeasy, casa de jazz, Cais das Oficinas armazém 115, Rocha do Conde de Óbidos. Bar e restaurante.
(in versão impressa da «Esquina» no «Jornal de Negócios».

July 03, 2003

OS CONSERVADORES E O SEXO
Imperdível o artigo no último Spectator sobre as festas de natureza sexual que seriam organizadas por um destacado dirigente conservador. O artigo é das melhores peças sobre a essência das coisas e o papel da hipocrisia.
UM NOVO SISTEMA SOLAR?
British astronomers say they found the first sun-like star with a giant gas planet in an orbit similar to Jupiter's, which leaves plenty of room for worlds like Earth and Mars. - a notícia vem na Wired News. Estaremos a um passo de uma descoberta que muda a forma como encaramos o Universo?
BERLUSCONI - DEIXO UMA PROVOCAÇÃOZINHA...
Pode um Blog reportar? Pode e deve: Não era minha intenção falar do que aconteceu ontem no PE com Berlusconi, mas já li relatos e comentários em diferentes blogues e alguns leitores do Abrupto pediram-me para comentar os eventos. Penso que tem sentido aqui descrever testemunhalmente o que se passou, por parte de um observador comprometido. Não é jornalismo, mas esforço-me por ser o mais rigoroso que posso nos factos. O resto é opinião. Sabia do que se preparava, assisti ao que aconteceu e , por razões que tem a ver com as minhas funções, tive e tenho um papel nas sequelas possíveis do evento. Sobre esta última parte compreenderão que não fale, como também não falarei dos aspectos de debate interno e das conversas em que participou Berlusconi. - estas linhas são de Pacheco Pereira no seu Abrupto e surgem como a introdução a um relato essencialmente factual e que contribui bem para se perceber o que se passou no Parlamento Europeu. Deixo aqui uma pequena provocação: porque será que não consegui ler em nenhum jornal relato tão exacto do sucedido? - Será que tem a ver com o facto de, tantas vezes, a função jornalística ser prejudicada por uma posição preconceituosoa de quem reporta, distorcendo a realidade? Peço comentários...

July 02, 2003

BLOG/ MEDIAS TRADICIONAIS - MAIS POLÉMICA
Um artigo de Mark Glaser editado hoje na Online Journalism Review aborda uma questão bem curiosa: mesmo quando jornalistas de sucesso têm blogs com muitos leitores, continuam a preferir os media tradicionais para revelarem as histórias que conhecem em primeira mão. Glaser cita o comentador político Daniel Weintraub que fala sobre o assunto e depois analisa também as implicações económicas da escolha editorial: no blog ou no jornal. O artigo é muitíssimo interessante, como podem ver por este excerpto: "Sometimes a scoop won't wait for your normal cycle or when your column comes out. But sometimes you get something big and realize it could be a big publicity generator for the site. And sometimes that outweighs the money gain of saving it for print. And if you're pouring lots of time into your site already, clearly you have motives that are not purely economic. So, I'd say, usually, but not always.". Texto na íntegra aqui
MANUELA, A ESTRELA
A fotografia de Manuela Ferreira Leite aparece em local de destaque na capa da edição mais recente (7 de Julho) da revista Business Week, dedicada ao tema «As Estrelas da Europa, 25 líderes na vanguarda da mudança». A Ministra das Finanças de Portugal aparece referida entre os seis financeiros mais relevantes da Europa, ao lado de gestores de bancos e grandes empresas industriais. A revista explica a situação em que Manuela Ferreira Leite encontrou o país quando chegou ao Ministério: «O Governo anterior tinha deixado a despesa pública cair fora de controlo», sublinha a «Business Week», para depois elogiar o trabalho desenvolvido pela Ministra. Vá lá, orgulhem-se, vão direitos à página 64 da revista.
ESCALFETA
Não sei porquê, hoje acordei a pensar neste poema de Alexandre O'Neill:
«Está minha mãe, na saleta,
a dizer que a vida é preta
à visita - e a visita, que é cinzenta,
diz que sim, que a vida é preta.

E eu: - Está completa
a lotação da escalfeta!


Já repararam como isto se aplica a tantas coisas da vida?
E então à política....
DISCÃO
Estou fascinado por um disco que acabei de ouvir: «A Wonderful World», canções de Louis Armstrong interpretadas por Tony Bennett e K.D. Lang. Faz sentido estarem juntos: ambos gostam de namoradas. A sério, ouçam «A Kiss To Build A Dream On» ou «Dream A Little Dream Of Me» e perceberão que isto é coisa séria.

July 01, 2003

SOLITÁRIO
Gosto de almoçar sózinho. Dá-me para ler, para ir pensando alguma coisa. Nestes dias, porque é perto e posso ir a pé, dá-me jeito almoçar no Magnolia Caffé (Largo do Campo Pequeno 2A). Tem comida leve, variada, desde uma boa sanduíche, até saladas como deve ser, passando por algumas coisas mais exóticas - como o stir-fry de arroz, tiras de carne, gengibre e camarão que hoje me deliciou. Infelizmente não tem vodka, que me tinha sabido bem no fim. Pode-se escolher entre o self-service (é mais sandes e sumos...) e uma mesa, de faca e garfo. O serviço é impecável, graças à chefe de mesa, a eficiente brasileira Rose, e à sua assistente, uma bela romena que dá pelo nome de Michaela e que fala português com um perfeito sotaque brasileiro. Na mesa ao lado estava uma outra brasileira, esta bastante desinteressante, que me fustigou o almoço a falar com uma italiana decadente que lhe falava dos Maseratis que tinha vendido. A brasileira, percebi eu pelo meio da conversa, estaria ligada à embaixada, chamava-se Cláudia e lia Rainer Maria Rilke enquanto abordava a problemática dos jeeps Mercedes. Se não fosse ter acompanhado o almoço pela leitura da «Wallpaper» que a casa disponibiliza para os clientes e uma meia garrafa de branco a vida tinha sido bem mais difícil.
TV BUTÃO
Marcos Sá Corrêa descreve com deliciosa graça a história da chegada da televisão ao reino do Butão, nos Himalaias, o último país do mundo a ligar o pequeno ecrã. Que aconteceu? Transformação social, roubos, templos assaltados, corrupção, desvios de fundos - nada que alguma vez tivesse acontecido no reino budista fundado no século XVII por um monge budista.
POLÉMICA BLOG VERSUS IMPRENSA
O Aviz sugere uma leitura do excelente artigo de Paulo Roberto Pires sobre o papel dos blogs, suas relações históricas e algumas teorias avulsas - de Walter Benjamin a Brecht. Vale a pena lê-lo na íntegra - está publicado no imprescindível no mínimo
LINUX ANIMADO
A Dreamworks (de Steven Spielberg) deitou a Microsoft às urtigas e desenvolveu um programa gráfico de animação com base na plataforma Linux. O novo filme de animação da Dreamworks é a velha e deliciosa história de Sinbad o Marinheiro e a forma como a Linux anima o mito vem contada na Wired
O PODER DO LOBBY
O que por cá se faz às escondidas, nos Estados Unidos faz-se às claras - lobbying é uma profissão, os representantes de causas e interesses (públicos ou privados) são conhecidos, assumem o seu papel, e têm muito orgulho nisso. Por cá confunde-se lobby com cunha, faz-se tudo de forma envergonhada, às escondidas (que é a pior maneira de fazer o que quer que seja) e como se de um favor se tratase. Recomendo vivamente a leitura de um belo artigo sobre a questão, e sobre as ligações entre políticos e o lobbying, que vem na Slate